Trayce Melo
No Dia do Cacau, nesta terça-feira (26), muito se tem o que comemorar. O sabor do produzido no Pará vem conquistando o mundo.
O Estado da Bahia foi, durante décadas, o maior produtor brasileiro de cacau. Porém, nos últimos anos, o Pará tem se consolidado como o principal produtor do país, representando 50,32% da produção brasileira, segundo os dados do Levantamento Sistemático de Produção Agrícola (LSPA)/2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os dados da Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira (Ceplac), o Pará é o lugar do planeta onde mais se planta cacau. A produção paraense representa mais de 96% de toda a produção da região Norte, com média de 146.375 toneladas.
Fabio Rezende Sicilia é chef, sommelier e chocolatier, que acompanha de perto cada passo do ciclo internacional de valorização do cacau da Amazônia. Hoje, ele possui uma marca própria de chocolates em Belém, Gaudens Chocolate, e se especializou em amêndoas finas que já foram premiadas Brasil afora.
Fabio Sicilia conta como começou essa paixão pela produção de chocolate. “Em 2004, ao retornar do meu curso de gastronomia, eu me deparo com o fato de que eu vivia na terra do cacau e que ninguém estava produzindo chocolate. Aquele momento foi marcante porque nós já éramos o segundo maior exportador de cacau do Brasil, o município de Medicilândia era o maior produtor de cacau do Brasil (como município) e simplesmente ninguém verticalizava esse produto”.
Nesse mesmo ano inaugurou uma fábrica de chocolate com o objetivo de ser referência de qualidade. “Nosso cacau é autóctone, ele é nativo da Amazônia, assim como a Bahia tem cacau, mas ela não tem cacau originário dela, foram levados inclusive do Pará, não foi nem do Amapá, nem do Amazonas, que também tem cacau, porque ele é um produto amazônico”, afirma.
“Com isso, eu recomeço o resgate da produção de chocolate no Pará e na Amazônia, porque ninguém na Amazônia brasileira estava produzindo chocolate. E eu começo isso novamente e ficamos na luta até 2012, quando a qualidade do nosso cacau começa a atingir uma excelência, porque os produtores perceberam que ao fermentar ele deixava de ser um cacau comum, para se tornar um cacau fino, e que tem mais valor, e eu sempre incentivando que eles fizessem isso”, contou.
QUALIDADE
“A gente começa a comprar, nisso começam a surgir outras empresas de chocolate. Depois disso, nós conseguimos ter um produto de alta qualidade e aí eu comecei a me dedicar à produção também do chocolate fino, que necessita do cacau fino, que é essa produção de amêndoas hoje que o Pará já consegue, com um número já significativo, ganhar prêmios na Europa. Eu usando essas amêndoas consegui ganhar prêmios com o chocolate”, acrescenta.
O chocolatier explica que a Gaudens trabalha exclusivamente com pequenos agricultores familiares. “Eles são muito mais cuidadosos na questão ambiental porque eles dependem desse meio ambiente e eles utilizam um meio de cultivo em que eles fazem consorciados, o que garante que eles tenham uma regularidade de fornecimento, inclusive a gente usa muito disso porque os nossos chocolate são desenvolvidos com frutas da região, açaí, cupuaçu, que são frutas que eles agregam também em bacuri. Fomos a primeira empresa a introduzir a farinha de tapioca no chocolate”, conclui.