LUCAS BRÊDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois da segunda música, o público já gritava o nome dos Titãs no show da banda na edição deste ano do Lollapalooza Brasil. A banda de rock levou ao festival o show da turnê “Encontro”, que passou por estádios em capitais do país nos últimos meses.
A prática se repetiu ao longo de toda apresentação, que aconteceu depois do Kings of Leon, atração principal deste sábado (23) no festival. Bastava um aceno ao público para que o coro com o nome da banda voltasse a ecoar.
De 47 shows da atual turnê, este foi o primeiro em que a banda tocou em um festival. Apesar de grande parte da plateia ser mais jovem do que o habitual na turnê de encontro, a multidão que ocupou o palco Samsung Galaxy estava aberta ao repertório mais antigo do grupo.
Essa tem sido a marca deste show, que reúne Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos e Charles Gavin, ex-integrantes dos Titãs, aos atuais, Tony Bellotto, Branco Mello e Sergio Britto. É a reunião quase completa da formação clássica da banda, com exceção de Marcelo Fromer, morto em 2001.
A primeira parte foi toda dedicada à fase punk e anárquica, incluindo “Diversão”, “Lugar Nenhum” e “Homem Primata”, entre outras. Antes de “Tô Cansado”, Branco Mello se dirigiu à plateia para falar sobre a felicidade de poder estar no palco do Lollapalooza após superar um câncer.
“Continuo me divertindo, falando, cantando, mesmo depois sei lá de quantas operações na garganta”, afirmou. Ele foi ovacionado e teve seu nome gritado pelas dezenas de milhares de presentes.
Mello cantou também, com a voz enrouquecida, “Não Sei Fazer Música” e “Cabeça Dinossauro”, faixa-título de um dos álbuns mais emblemáticos da fase clássica dos Titãs, nos anos 1980. Dessa época, o show teve “Igreja”, “O Pulso” e “Comida”, entre outras.
Essa fatia do repertório é uma lembrança da energia de inconformismo juvenil que deu o tom dos primeiros discos e colocou os Titãs entre os maiores do rock nacional. São as músicas com ataques às instituições da igreja à família e ao estado, contra a desigualdade social e o capitalismo.
Em “Nome aos Bois”, lançada em 1987, no álbum “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, Nando Reis incluiu o ex-presidente Jair Bolsonaro entre os ditadores, tiranos e personalidades citadas na música. A lista vai de Hitler a Doca Street.
O show já batia quase uma hora de duração quando os integrantes se sentaram com violões para uma sessão acústica. Foi o momento de karaokê coletivo, com a multidão cantando junto as baladas dos Titãs, entre elas “Epitáfio”, “Os Cegos do Castelo”, “Pra Dizer Adeus”, “Toda Cor” e “Não Vou me Adaptar”.
O roteiro foi o mesmo da turnê de reunião, que segundo Sergio Britto chegou ao fim no Lollapalooza, já invadindo a madrugada de domingo (24). Se o Kings of Leon fez um show morno e saiu do palco antes do horário marcado, os Titãs tocaram por quase duas horas, para uma plateia que não parecia cansada mesmo com frio e debaixo de uma interminável chuva fina.
No Lollapalooza, a sensação que ficou é de que o cancioneiro dos Titãs está tão incrustado na música popular brasileira que nem quem não é fã passa imune. Até os vendedores ambulantes deram uma pausa no trabalho para pular e cantar junto com a banda na sequência de “Flores” e “Televisão”.
Algumas rodas de bate-cabeça se formaram na frente do palco em “Porrada”, “Polícia” e “Bichos Escrotos”, três das músicas mais agressivas dos Titãs. O encerramento ainda teve “Marvin”, com o coro da plateia, e “Sonífera Ilha”, quando parte do público já deixava o Autódromo de Interlagos.
Se faltava à turnê de reunião uma provação fora de seu público mais cativo, os Titãs tiveram um bom termômetro de popularidade e alcance no Lollapalooza. Em termos de animação e engajamento, esteve à frente inclusive do headliner do dia, o Kings of Leon.