Pará

Páscoa movimenta turismo religioso no Pará; veja locais para visitar

Basílica Santuário. Foto: Celso Rodrigues
Basílica Santuário. Foto: Celso Rodrigues

Cintia Magno

Muito mais do que a chegada de um feriado, a Semana Santa marca um período de reflexão, oração e confissões para a comunidade católica e abre espaço para uma prática que destaca o lazer e eventos relacionados a fé, o turismo religioso. Para além das manifestações religiosas e procissões, o turismo religioso também é feito pelo conhecimento do patrimônio representado pelas igrejas que foram construídas em diferentes períodos históricos para receber festividades e seus peregrinos.

E para quem quer aproveitar a Semana Santa para conhecer um pouco mais das igrejas e templos presentes não apenas em Belém, como também em alguns municípios do interior do Estado, o que não faltam são opções.

Partindo do núcleo inicial da cidade de Belém, o caminho que se estende da Cidade Velha em direção ao bairro da Campina permite acompanhar a localização de templos religiosos cujas primeiras construções datam de mais de quatro séculos. Foi justamente nesta região que que se estabeleceu a primeira igreja da cidade, ainda dentro do então Forte do Presépio, no século XVII.

Posteriormente, essa igreja foi transferida para a área externa ao forte, no entorno do que hoje é a Praça Dom Frei Caetano Brandão, passando a abrigar a Igreja Matriz. Mais tarde, ainda no mesmo lugar, foi erguida a Catedral Metropolitana de Belém, a Igreja da Sé, que pode ser vista até hoje. E não apenas ela.

À medida em que a cidade foi crescendo, novas construções foram ocupando espaço no território da capital paraense. Foi quando a Igreja do Carmo se estabeleceu, sendo acompanhada pela Igreja das Mercês e depois a Igreja de Santo Antônio, a Igreja de Sant’Ana, a Igreja dos Rosário dos Homens Pretos, entre outras.

Naturalmente, ao longo dos anos tais edifícios religiosos foram sendo seguidamente modificados e, em muitos casos, refeitos. Ainda no século XVII, os relatos apontam que as igrejas de Belém mantinham construções simples e sem grandes ornamentações, cenário modificado em grande parte com a chegada do arquiteto italiano Antônio Landi a Belém. Apesar de eventuais intervenções, tais construções continuam a contar parte da história de Belém.

VIGIA

Igreja Madre de Deus. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Compartilhando a devoção a Nossa Senhora de Nazaré, o município de Vigia também resguarda um patrimônio arquitetônico marcado por igrejas centenárias e repletas de memória. Dentre as edificações mais representativas da época da colonização e que ainda hoje podem ser apreciadas no município está a Igreja da Madre de Deus, a Igreja Matriz de Vigia, que homenageia Nossa Senhora de Nazaré.

Com uma fachada imponente e que pode ser avistada ao longe, a igreja marca o início e o encerramento das festividades em homenagem à Virgem de Nazaré e, durante o ano todo, guarda por trás de suas pesadas portas de madeira uma enorme riqueza de detalhes em peças do estilo barroco. O patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi deixado ao município de Vigia pelos padres jesuítas, ordem religiosa ligada à Igreja Católica e que tinha como missão a catequização dos nativos através do ensino, tendo exercido participação importante no Brasil colonial.

Comandada pelos jesuítas e contando com a contribuição da mão de obra de negros e indígenas, a construção da igreja foi concluída em 1732, ainda no século XVIII. Entre os destaques da construção, estão a riqueza de detalhes talhada em cada peça de madeira do altar, além da arte empregada na sacristia da igreja, cujas pinturas no teto prestam homenagens à Nossa Senhora.

Em outro ponto do município, de frente para o rio Guajará-Mirim, outra construção religiosa se impõe no cenário da Vigia de Nazaré, a Igreja de Pedras, oficialmente denominada Capela do Senhor dos Passos. Mais do que a presença dos jesuítas, porém, a edificação marca um importante episódio da história do Brasil colonial, a expulsão dessa ordem religiosa de todo o reino português, incluindo suas colônias, como era o caso da área que hoje compreende Vigia de Nazaré.

Edificado por pedras sobrepostas e sem reboco, o templo não teve tempo de ser concluído. As obras iniciaram em 1739, porém, com a expulsão dos jesuítas – responsáveis pela construção – em 1759, a edificação foi abandonada da forma que estava, apenas com as paredes que comporiam a área do altar e sem telhados. A construção permaneceu assim até meados de 1950, quando foram iniciadas as obras que finalizaram o templo, inserindo a estrutura da cobertura, portas e janelas. No interior da capela, ainda é possível ver um marco da interrupção da construção dos jesuítas, uma pia de mármore inacabada.

BRAGANÇA

A Marujada de Bragança é conhecida no País inteiro. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará

Município que abriga a tradicional Marujada de São Benedito, Bragança também mantém imponentes construções religiosas que são um chamado ao exercício da fé. Construção do século XVIII, a centenária Igreja de São Benedito é o ponto de partida da procissão solene que homenageia o Glorioso São Benedito, tradição teve início ainda em 1798 quando, após a celebração do Natal pelos vigários que se dirigiam até Bragança, um grupo de 14 negros escravizados passou a se reunir para fazer a sua própria celebração de Natal, formando uma irmandade composta por negros africanos, parte deles escravizados e parte libertos.

Já na região central do município, outra construção, que data da segunda metade do século XIX, também guarda uma íntima relação com a Marujada. Segundo a historiografia, a igreja teria sido construída pela Irmandade da Marujada de São Benedito com o objetivo de homenagear e louvar São Benedito, porém, posteriormente houve uma troca e o templo erguido por eles passou a abrigar a Igreja Matriz de Bragança, hoje a Catedral de Nossa Senhora do Rosário. Já a Igreja de São Benedito passou a ocupar o antigo templo da Igreja Matriz, que ficava próximo à orla da cidade. Tal configuração se mantém até os dias de hoje.

 

ROTEIRO DA FÉ

Conheça algumas igrejas que costumam atrair visitantes em Belém e em alguns municípios do interior do Estado.

 

BELÉM

Igreja da Sé – Catedral Metropolitana de Belém

(Praça Dom Frei Caetano Brandão – Cidade Velha)

Erguida no núcleo inicial da cidade de Belém, a Igreja da Sé passou por várias reformas até que se chegasse à configuração atual. A primeira igreja erguida no local data do período de 1616 a 1618 e era consagrada a Nossa Senhora da Graça. A segunda construção, erguida para ser a Igreja Matriz da Cidade, é de 1718 ou 1719. Já a igreja atual foi inaugurada parcialmente em 1755 e concluída em 1782. Acréscimos decorativos importantes foram realizados no interior da Igreja no final do século XIX, com a participação de artistas italianos. Alguns detalhes do seu interior são atribuídos ao arquiteto Antônio Landi, tendo sua participação invocada também nas obras de finalização da fachada.

 

Igreja de Santo Alexandre

(Praça Dom Frei Caetano Brandão – Cidade Velha)

Marco da presença dos Jesuítas em Belém, a Igreja de Santo Alexandre é considerada o maior monumento jesuíta do Norte do Brasil. Inicialmente dedicada a São Francisco Xavier, a primeira construção foi erguida em 1653 e tinha apenas um altar. Já em 1668 é erguida a segunda igreja, já anexa ao colégio. A construção atual foi inaugurada entre 1718 e 1719, tendo passado, posteriormente, por reformas e ampliação até a expulsão dos jesuítas das terras portuguesas, em 1749.

 

Igreja Nossa Senhora do Carmo

(Tv. Dom Bôsco, 69-109 – Cidade Velha. Praça do Carmo)

Apontada como a única construção religiosa de Belém com fachada em pedra – fachada essa importada de Lisboa na metade do século XVIII -, a Igreja do Carmo foi construída em terreno doado pelo então governador da Capitania do Pará, o capitão-mor Bento Parente. A primeira construção data de 1626, porém a edificação foi reconstruída em 1696. Em uma das reformas realizadas, ocorreram danos à nave já existente, sendo responsável pelas obras de recuperação o arquiteto italiano Antônio Landi, que realizou intervenções na nave e em outros elementos.

 

Igreja de Sant’Ana

(Rua Padre Prudêncio, nº 95 – Campina)

Considerada uma assinatura de Landi na arquitetura religiosa, a Igreja de Sant’Ana, cuja pedra fundamental foi lançada por volta de 1760, foi uma construção erguida em função de arrecadações das irmandades do Santíssimo Sacramento, da qual Landi fazia parte, já que era devoto de Sant’Ana. As torres hoje vistas na construção não fazem parte do projeto de Landi, tendo sido acrescentadas em 1840. Entre os destaques da construção está a cúpula, traço de Landi na arquitetura presente em Belém. Além de Sant’Ana, apenas outra igreja de Belém possui cúpula, a Capela de São João Batista.

 

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

(Rua Padre Prudêncio – Campina)

A primeira construção foi uma ermida muito simples e que acabou sendo demolida em 1725. A construção atual data do século XIX. Com pouca documentação existente sobre a construção, o que se sabe é que ela foi erguida por uma irmandade composta por escravos e negros libertos. Dentre os destaques da construção, é possível ver que os anjos que decoram o seu interior têm feições caboclas e negras.

 

Basílica Santuário de Nazaré

Foto: Antônio Melo/Diário do Pará

(Av. Nª Sra. de Nazaré – Nazaré)

Instalada às margens do que, em 1700, era o igarapé Murucutu, a igreja passou por várias transformações até que chegasse à bela construção de 20 metros de altura. A construção está localizada no ponto exato onde o caçador Plácido teria encontrado a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré. A primeira construção do que depois viria a se tornar a Basílica Santuário era uma pequena ermida de palha. Com o passar dos anos, outras construções foram realizadas até que, em 1852, fosse erguida a Igreja Matriz que, apenas 50 anos depois, daria lugar à Basílica, que começou a ser construída em 1909. Ainda antes do término da atual construção, o Papa Pio XI concedeu, em 1923, o título de Basílica à igreja, pela característica de sua construção, com capelas laterais, e em reconhecimento pela devoção mariana. Já a elevação à condição de Santuário ocorreu em 2006, através do então Arcebispo de Belém, Dom Orani João Tempesta.

 

MOSQUEIRO

Capela do Sagrado Coração de Jesus

(Av. 16 de Novembro, 60 – Chapéu Virado – Mosqueiro – Belém-PA)

Construção de 1909, a capela é o ponto de partida para o Círio de Nossa Senhora do Ó desde a década de 50 até os dias de hoje. Registros históricos da época apontam que a capela foi construída por encomenda um comerciante local como forma de pagamento de uma promessa.

Fontes: Com informações do livro ‘Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém’, de Jussara da Silveira Derenji e Jorge Derenji, publicado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); Site oficial da Basílica Santuário de Nazaré (https://basilicadenazare.com.br/); Site oficial da Catedral Metropolitana de Belém (https://catedraldebelem.com.br/).

 

 

VIGIA DE NAZARÉ

Igreja da Madre de Deus (Igreja Matriz)

(Rua de Nazaré – Vigia de Nazaré-PA)

A construção é uma das primeiras comandadas pelos jesuítas em Vigia de Nazaré. A Igreja em estilo barroco é rica em detalhes em madeira e guarda belas imagens de roca, imagem caracterizada pela possibilidade de ser vestida com diferentes roupas, tendo algumas partes do corpo móveis para facilitar a troca. O pesquisador, escritor e memorialista vigiense Raul Lobo aponta que, à época, as imagens de roca não tinham denominações fechadas. Com tantas denominações existentes para Nossa Senhora, elas poderiam ser caracterizadas e depois descaracterizadas de acordo com a liturgia. A Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que sai na procissão do Círio de Vigia, é deste estilo e está resguardada na Igreja Matriz.

Outra característica da Igreja tombada pelo Iphan é a presença de 22 colunas laterais em estilo toscano, uma das poucas existentes no Brasil com esta característica. Outra curiosidade da Igreja é que seus corredores laterais costumavam servir de abrigo para os romeiros que se dirigiam à então vila para acompanhar a procissão de Nossa Senhora de Nazaré. Em uma de suas torres, quatro sinos ainda fazem os anúncios fúnebres e solenes no município.

 

Igreja de Pedra (Capela do Senhor dos Passos)

(Rua Professora Noêmia Belém, 484 – Vigia de Nazaré-PA)

Inacabada, esta foi a última construção dos jesuítas em Vigia. Erguida em pedra sobrepostas e sem reboco, teve a participação de negros e indígenas. A expulsão da ordem dos jesuítas pela coroa portuguesa, porém, impediu a finalização da obra. Em 1931, parte das paredes laterais chegou a ser demolida para a utilização das pedras na construção da antiga usina de energia e no cais de arrimo do município. Já em 1950, devotos arrecadaram recursos para a recuperação da capela, que acrescentou um coro e fechou o arco cruzeiro.

 

Poço dos Jesuítas

(Rua das Flores, 375 – Vigia de Nazaré-PA)

Com o crescimento populacional da então Vila de Nossa Senhora de Nazareth da Vigia, no século XVIII, e o estabelecimento de várias ordens religiosas, algumas estruturas de serventia comunitária foram criadas pelos colonizadores, a exemplo dos poços para usufruto público que disponibilizavam água na área urbana da vila. A história aponta que existiram pelo menos oito poços que acabaram desativados com o tempo. Um deles, porém, foi preservado e pode ser visitado. Sua obra é atribuída aos jesuítas.

Fonte: Com informações das placas de identificação dos pontos turísticos.

 

BRAGANÇA

Igreja de São Benedito

(Largo entre a Avenida Visconde do Rio Branco, a Rua General Gurjão e a Travessa Cônego Miguel – Bragança-PA)

Construção do século XVIII, a centenária Igreja de São Benedito é o ponto de partida da procissão solene que homenageia o Glorioso São Benedito. Em estilo barroco, a igreja é herança da presença jesuítica no município e é considerada a única edificação do tipo ainda existente em Bragança. É nela que fica a imagem de São Benedito, esculpida em estilo português.

 

Catedral de Nossa Senhora do Rosário

(Rua Treze de Maio – Centro – Bragança-PA)

Construção da segunda metade do século XIX, a igreja teria sido construída por negros libertos e escravizados com o objetivo de homenagear e louvar São Benedito, porém, posteriormente houve uma troca entre a Igreja Católica e a Irmandade da Marujada de São Benedito – que deu origem à tradicional Marujada de São Benedito de Bragança – e a antiga igreja matriz do município, menor, passou a louvar São Benedito, deixando a nova construção em homenagem a Nossa Senhora do Rosário.

 

Fonte: Com informações do blog do Prof. Dário Benedito Rodrigues, historiador e docente da Universidade Federal do Pará (UFPA) – Campus Bragança (https://profdariobenedito.blogspot.com); Guia Turístico Digital de Bragança – Prefeitura Municipal de Bragança.

 

SEMANA SANTA

A Semana Santa inicia neste domingo (24/03) e segue até o próximo sábado, 30 de março.