Luiz Flávio
Levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que quatro em cada dez brasileiros adultos (40,60%) estavam negativados em fevereiro de 2024. Na comparação com o mesmo período de 2023, o indicador apresentou crescimento de 2,79%. O estudo mostra ainda que o número de inadimplentes no país teve uma pequena queda no segundo mês do ano, em comparação com janeiro, e atinge 66,64 milhões de brasileiros.
Os dados abrangem informações de capitais e interior de todos os 26 estados da federação, além do Distrito Federal. Na passagem de janeiro para fevereiro de 2024, o número de devedores caiu 0,49%.
A economista Débora Gomes afirma que se uma pesquisa fosse feita com 10 pessoas, é bem provável que as 10 afirmem que precisam ganhar mais e, via de regra, atribuem seu desequilíbrio orçamentário ao fato de ganharem pouco.
“Porém, estudos revelam que se uma pessoa aumentar seu nível de renda, invariavelmente aumentará seu nível de consumo em patamares maiores que esse incremento na renda. Então, a partir de uma visão da psicologia financeira, entendo que os fatores que levam ao endividamento não estão apenas vinculados ao dinheiro em si, mas sobretudo aos aspectos emocionais”, analisa.
Segundo ela, o perfil dos endividados é facilmente detectado, pois tem traços característicos bastantes comuns: gastam mais do que ganham; adotam um padrão de consumo que não corresponde a sua renda; antecipam o consumo antes de ter o dinheiro para pagar à vista, usam o cartão de crédito como se não fossem ter que pagar, entre outros.
“Então acredito ser possível ter uma vida financeira equilibrada mesmo com uma renda mais modesta. O equilíbrio financeiro não está apenas relacionado ao montante que se ganha, mas também à forma como se gerencia o dinheiro”, pontua a especialista.
EQUILÍBRIO
E como zerar tudo isso e começar a virar o jogo, alcançando o equilíbrio financeiro necessário para mandar longe o sorteio de boletos que serão pagos todos os meses? “Essa virada de mesa é perfeitamente possível! Para começar é essencial criar um orçamento realista, identificar e priorizar dívidas, cortar gastos desnecessários e, se possível, buscar aumentar a renda”.
A economista também recomenda buscar orientação financeira profissional. “Isso pode ser feito por meio de educadores financeiros, cursos de educação financeira ou até mesmo serviços de aconselhamento gratuito oferecidos por órgãos governamentais. Cuidar da saúde mental também é fundamental. Procurar apoio emocional, seja de amigos, familiares ou profissionais de saúde mental, pode ajudar a enfrentar o estresse associado ao endividamento”.
Pesquisa
O número de endividados com participação mais expressiva em fevereiro, segundo o levantamento, está na faixa etária de 30 a 39 anos (23,66%). De acordo com a estimativa, são 16,47 milhões de pessoas registradas em cadastro de devedores nesta faixa, ou seja, quase metade (48,37%) dos brasileiros desse grupo etário estão negativados. A participação dos devedores por sexo segue bem distribuída, sendo 51,12% mulheres e 48,88% homens.
Os dados ainda mostram que cerca de três em cada dez consumidores (30,36%) tinham dívidas de até R$ 500, percentual que chega a 44,39% quando se fala de dívidas de até R$ 1.000. Em fevereiro, o número de dívidas em atraso no Brasil teve crescimento de 6,32% em relação ao mesmo período de 2023.
Orientações
Débora Gomes diz ainda que é preciso ter a percepção de que os credores geralmente estão dispostos a negociar. A comunicação aberta e o compromisso com o pagamento são fundamentais nesse processo. Antes de partir para a negociação ela recomenda adotar algumas medidas, tais como:
- Avalie a situação e liste todas as suas dívidas, incluindo valores, taxas de juros e prazos e priorize as dívidas com taxas de juros mais altas
- Faça um orçamento realista. É preciso encarar a situação com coragem e clareza; crie um orçamento detalhado que inclua despesas essenciais, economias e um plano para quitar as dívidas; reduza gastos não essenciais para direcionar mais dinheiro para o pagamento das dívidas.
- Negocie taxas de juros. Entre em contato com os credores para negociar taxas de juros mais baixas; explique sua situação e veja se há opções de refinanciamento ou consolidação de dívidas; pesquise opções de empréstimos de consolidação de dívidas; destine qualquer valor extra disponível para a dívida com a taxa de juros mais alta.
- Monitore regularmente seu progresso, fazendo ajustes no orçamento conforme necessário; celebre pequenas vitórias ao quitar cada dívida, isso vai ser fonte de motivação.
- Consistência e o comprometimento são elementos essenciais para ter êxito em qualquer aspecto da vida. Seguir um plano estruturado, manter a comunicação aberta com os credores e buscar oportunidades de economia podem ajudar significativamente a quitar as dívidas de maneira mais eficaz.