Seis espetáculos e um propósito: formar plateias que valorizem a realização de monólogos. Esse é o escopo do Festival Solos do Pará, que começa hoje e segue até 6 de setembro, em Santarém, no oeste do Pará, com participação de artistas de Santarém, Belém e Macapá. O espetáculo que abre o evento é “Jogo Oriental”, da Cia. Sorteio de Contos, de Belém, com apresentação às 20h, no Auditório Maestro Wilson Fonseca (Ufopa), campus Rondon.
“A gente percebeu que tinha uma necessidade em Santarém de trazer espetáculos solo, então, o festival surgiu com o objetivo de contribuir para a formação de plateia, além de visibilizar o trabalho desses atores, em formato de monólogo, com um ator em cena. O festival é fruto do Prêmio Preamar de Cultura e Arte 2022”, explica o idealizador e coordenador do evento, Elder Aguiar, que atua como ator do Grupo de Teatro Olho D’água.
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Ao todo, seis grupos participam do evento, três de Belém, dois de Santarém e um convidado do Amapá. Como parte da programação, Elder destaca o bate-papo sobre gestão cultural na Amazônia que ocorrerá nesta quinta-feira, às 16h, com mediação de Danilo Bracchi, representante da Fundação Cultural do Pará (FCP). “Em paralelo às apresentações dos espetáculos, haverá rodas de conversa e workshops, com os grupos que trarão suas visões sobre seus processos criativos, com um olhar bem didático, direcionados para acadêmicos, atores e comunidade em geral”, detalha Elder Aguiar.
“As histórias que meu guarda-roupa guarda” é um dos monólogos que integram a programação. Ele será encenado pela atriz Nanan Falcão nesta sexta-feira, 2, às 20h. Ela, que já contou, por exemplo, a história da calça, onde faz uma relação com o feminismo, agora tem neste novo monólogo o segundo trabalho de pesquisa no tema. “O espetáculo fala sobre o universo da roupa. É uma pesquisa em cima da vestimenta da humanidade. O guarda-roupa é um objeto figurativo desse peso da ancestralidade, da herança afetiva, familiar e social que a gente recebe. O guarda-roupa fala sobre o que a gente faz com essas coisas que são deixadas para gente, mas a partir da roupa, da costura, da invenção da agulha. Uso a roupa como uma poética para guiar o espetáculo”.
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Ela considera importante a realização do festival, para que os artistas mostrem seus trabalhos, e para ser um ponto de encontro. “O festival possibilita aos artistas circularem principalmente na região amazônica, que é carente de grandes festivais, além de ser importante para os artistas se verem, se conhecerem, formarem uma rede de contatos e de produção, já que viajar na Amazônia é muito difícil. É importante a gente se encontrar e entender isso para pensar nossas formas de produzir na Amazônia”, aponta a atriz, que saiu de Belém, de barco, com seu cenário, e isso mostrou a ela, segundo suas palavras, como é difícil essa logística, além de caro e demorado.
Outra produção solo destacada é “Contos, Cantos e Encantos Tapajônicos”, do Grupo de Teatro Olho D’água, de Santarém. A atriz Elizangila Dezincourt é quem sobe ao palco do Auditório Maestro Wilson Fonseca no domingo, 4, às 20h. “O espetáculo trata sobre o imaginário amazônico de cinco cidades do oeste do Pará: Juruti, Óbidos, Alenquer, Oriximiná e Santarém. A gente tem muito respeito pelas histórias de mestres e Griôs dessas cidades. A vantagem de ser um espetáculo solo é que ele é muito simples. Apesar da parafernália de se deslocar com instrumentos musicais, a gente conseguiu levá-lo para outras cidades, dentro de um carro pequeno, com atriz, músico, diretor e uma pessoa que atua na iluminação”, detalha.
Com direção de Elder Aguiar e trilha sonora iniciada pelo fotógrafo Adrio Denner e continuada pelo músico Enzo Gabriel Aguiar, “Contos, Cantos e Encantos Tapajônicos” recebeu o Prêmio do Instituto de Artes do Pará – atual Casa das Artes, e também Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.
Na segunda-feira, 5, será a vez do ator Kennedy Harilal apresentar o “Cauré: O Espírito do Tempo e a Cuia-do-Destino”, às 20h. O monólogo é assinado pelo dramaturgo Francisco Vera Paz e apresenta a história de Manuel Maria Duarte Pereira (1971-1996), que foi um ator, caricaturista, comunicador social, militante, ecologista e estudante universitário santareno. “A narrativa apresenta um Cauré cheio de vida, mas já pressentindo a aproximação da morte”, diz Kennedy.