Já disse por aqui pela coluna outras vezes e torno a repetir, após a realização de mais uma cerimônia do Oscar: o prêmio é mais uma celebração da própria indústria do que exatamente o melhor do cinema. E digo isso não em demérito aos ganhadores, mas os critérios para as escolhas dos indicados e quem recebe a estatueta dourada mais famosa do cinema americano. E chegamos ao evento de 2024 que, como esperado, consagrou Christopher Nolan e seu “Oppenheimer”, teve boas surpresas e as esnobadas de “Vidas Passadas”, “Barbie” e “Assassinos da Lua das Flores”.
Em um momento de crise nas bilheterias para os estúdios e pressão por representatividade, “Oppenheimer” veio como uma tempestade perfeita para justificar seus sete prêmios. Primeiro, por cumprir alguns dos requisitos preferidos da maioria dos votantes da Academia: é uma biografia histórica, com tema de guerra, elenco estrelado, além de um diretor consagrado na indústria. E a “cereja do bolo” foi a bilheteria estrondosa do filme, quase batendo R$ 1 bilhão nos cinemas do mundo.
Por outro lado, “Barbie” venceu apenas em Melhor Canção Original, mostrando que se amam narrativas de guerra, os jurados não são muito afeitos às comédias. Com bilhão em bilheteria, a fábula feminista de Greta Gerwig não emplacou nas principais categorias e viu as estatuetas indo parar nas mãos de “Pobres Criaturas”. As duas obras possuem similaridades, mas Yorgos Lanthimos foi mais longe na ousadia, mesmo que, tecnicamente, o filme da boneca seja quase impecável.
Entre as atuações, deu a lógica entre os premiados: Da’Vine Joy Randolph, Robert Downey Jr e Cillian Murphy vinham “raspando” tudo na temporada de prêmios, mas eu realmente achei bem injusto Lily Gladstone perder por “Assassinos da Lua das Flores” para Emma Stone. Gladstone tinha uma personagem mais cheia de nuances e merecia levar essa estatueta para as representações indígenas americanas.
Mas também houve boas surpresas: “Godzilla Minus One” ganhar Efeitos Especiais com muita criatividade e esforço prático; “Zona de Interesse” levar por Filme Estrangeiro e também por Melhor Som; “Anatomia de Uma Queda” levar Roteiro Original e “O Menino e a Garça” consagrar o mestre Hayao Miyazaki com seu segundo careca dourada, batendo o favoritismo de “Homem Aranha Através do Aranhaverso”.
No fim, a cerimônia foi mais uma tentativa de o prêmio não perder relevância e atrair o público jovem, mas parece que esqueceram de combinar com os russos (no caso, os votantes), que preferiram jogar no “tradicional”, pendendo para o lado financeiro e conservador.