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Gerson Nogueira analisa desafio bicolor em Caxias: 'Enfim, um desafio de verdade'

Foto: Jorge Luís Totti/Paysandu
Foto: Jorge Luís Totti/Paysandu

Enfim, um desafio de verdade

Líder invicto do Campeonato Paraense, o PSC usa a competição como laboratório para a disputa do Brasileiro da Série B, mas sofre com o nível técnico do Parazão. Não há termo de comparação com os principais campeonatos do país – Paulista, Carioca, Mineiro e Gaúcho. O técnico Hélio dos Anjos recentemente lamentou que alguns clubes da Série B tenham o privilégio de testar forças contra equipes da Série A.

Hélio estava se referindo principalmente a Ituano, Novorizontino, Ponte Preta, Mirassol, Botafogo de Ribeirão Preto e Guarani no Paulistão. Enquanto duelam com Palmeiras, S. Paulo e Corinthians, o Papão joga contra Canaã, Tapajós, Castanhal e Cametá. A diferença é abissal.

Pois hoje à noite, em Caxias do Sul, o PSC tem a oportunidade de encarar um teste de verdade. Desafia o Juventude local pela segunda fase da Copa do Brasil. Uma para difícil e que pode dar ao técnico Hélio dos Anjos as respostas sobre o estágio atual do time.

Para chegar com força máxima à partida de hoje, o PSC poupou cinco jogadores no confronto com o Bragantino, sábado, pelas quartas de final do Parazão. Medida que permitiu um merecido descanso a Nicolas e Robinho, destaques da equipe paraense na temporada.

Diante do Juventude, time que vai disputar a Série A, há a convicção de que o Papão terá que fazer sua melhor apresentação do ano para conquistar a classificação à terceira fase da Copa do Brasil. Caso tenha êxito, vai garantir uma premiação acumulada em torno de R$ 4 milhões.

Nas últimas três partidas, o PSC conseguiu três vitórias, todas pelo placar de 3 a 0 – contra Castanhal e Bragantino, pelo estadual, e contra o Rio Branco (AC) pela Copa Verde. Demonstração clara do excelente momento vivido pela equipe.

Com bom funcionamento do setor defensivo, centrado na dupla Lucas Maia e Wanderson, o time tem opções de qualidade para compor o meio-de-campo. O trio mais utilizado tem sido Val Soares, Gabriel Bispo e Robinho. O ataque tem Nicolas como referência, com Jean Dias e Vinícius pelos lados.

Um time que foi ganhando entrosamento com o passar dos jogos e hoje exala confiança a partir das vitórias convincentes dentro do Parazão. Falta o carimbo de uma atuação consagradora contra um adversário que é da Série A. Chegou a hora de conquistar essa condição.

Mundo sente falta dos goleadores brasileiros

Célebre pela aparentemente inesgotável produção de grandes artilheiros – Pelé, Ronaldo, Romário, Careca, Roberto Dinamite –, o Brasil há muito tempo não frequenta a tábua de goleadores das principais ligas europeias. O último foi Grafite, que brilhou no Campeonato Alemão de 2009.

E olha que era Grafite, um atacante não mais que mediano. Levantamento do site Torcedores.com tenta sem sucesso encontrar uma explicação para a escassez de homens-gol no futebol nacional.

Não dá para encontrar uma explicação apenas, os motivos são diversos. Jovens atletas deixam o Brasil muito cedo, o que por um lado garante rápida adaptação ao estilo europeu de jogar, mas faz com que percam características que distinguem os brasileiros dos concorrentes estrangeiros.

Erling Haaland, norueguês que brilha no Manchester City e deslumbra o mundo, é um centroavante de linhagem essencialmente europeia. Segue o mesmo perfil de atuação do polonês Robert Lewandowski e do inglês Harry Kane. Os três têm pouca habilidade, mas são tecnicamente bem preparados e usam a força física como grande trunfo.

O momento de entressafra no trabalho de formação é outro ponto a ser considerado. Não por acaso, o Brasil vem acumulando insucessos nos torneios sub-17 e sub-20, culminando com a recente eliminação no torneio Pré-Olímpico de Caracas.

As virtudes que antes diferenciavam os atacantes brasileiros hoje são mais valorizadas nos jogadores de meio, orientados desde cedo a atacar e a voltar para marcar. É verdade que o futebol mudou bastante, mas Messi, Cristiano Ronaldo e Mbappé nunca foram obrigados a marcar.

Na aclamada Premier League inglesa, é visível o domínio de meias e pontas, mas a figura do homem de área que sabe fazer gols segue extremamente cultuada. Os esquemas são rígidos, mas os goleadores continuam a existir, mesmo sofrendo dura marcação.

Chato é constatar que nenhum brasileiro se destaca entre os melhores. Richarlyson e Gabriel Jesus, exemplos típicos de atacantes que não funcionam, confirmam a crise de talentos que assola o futebol brasileiro. Sem astros da grande área, o Brasil deixou de ser protagonista.

Racistas precisam ser punidos, pelo bem do futebol

O Águia venceu o Caeté por 2 a 0, no sábado, em Marabá, e um episódio fora do campo acabou ofuscando o triunfo do time da casa. O atacante Fidelis, do time bragantino, foi vítima de ataques racistas por parte de um torcedor do Azulão, de 38 anos, preso em flagrante depois da partida.

O dado importante é que o torcedor racista foi identificado por pessoas que estavam nas arquibancadas do Zinho Oliveira. Conduzido à delegacia da Polícia Civil, ele foi mantido preso e responde a inquérito. O crime de racismo é inafiançável.

Além da manifestação de repúdio por parte do Caeté, o Águia se solidarizou com Fidélis, colocando-se à disposição para colaborar com a apuração dos fatos. “O Águia de Marabá ressalta que ao longo de sua grandiosa história jamais compactuou com tais atos abomináveis e que assim sempre será. Racistas não passarão!”, diz a nota.

A Federação Paraense de Futebol (FPF) informou que acompanha o caso desde o primeiro momento. A investigação corre pela Seccional de Marabá.

Não foi o primeiro caso de racismo no futebol paraense, nem provavelmente será o último, mas a ação imediata é o melhor caminho para extirpar esse ato de desumanidade.

O importante é que todos se conscientizem de que, como disse Angela Davis, não basta repudiar atos racista, é preciso ser antirracista.