Dr. Responde

Câncer do colo do útero pode ser tornar primeiro a ser erradicado

Foto: Rodrigo Nunes/MS
Foto: Rodrigo Nunes/MS

Agência O Globo

O câncer do colo do útero é totalmente prevenível por meio da vacinação contra o HPV, combinada com rastreio e tratamento. Agora, ele pode ser eliminado em nível global graças a compromissos feitos por governos, doadores, instituições multilaterais e parceiros para expandir a cobertura vacinal e reforçar os programas de rastreio e tratamento. Se isso for concretizado, esse será o primeiro câncer mundialmente eliminado.

Durante o primeiro Fórum Global para a Eliminação do Câncer do Colo do Útero: Promover o Apelo à Ação, realizado em Cartagena das Índias, na Colômbia, foram anunciados compromissos políticos, programáticos e financeiros, incluindo quase 600 milhões de dólares em novos financiamentos, para acabar com essa doença evitável.

Os compromissos anunciados marcam um momento decisivo para acelerar o progresso numa promessa feita em 2020, quando 194 países adotaram a estratégia global da OMS para eliminar o câncer do colo do útero.

“Temos o conhecimento e as ferramentas para fazer história do câncer do colo do útero, mas os programas de vacinação, rastreio e tratamento ainda não atingiram a escala necessária”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

“Este primeiro fórum global é uma oportunidade importante para os governos e parceiros investirem na estratégia global de eliminação e abordarem as desigualdades que negam às mulheres o acesso às ferramentas que salvam vidas de que necessitam.”

A cada dois minutos, uma mulher morre de câncer do colo do útero, embora já existam conhecimentos e ferramentas para prevenir e até eliminar esta doença. A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) – a principal causa desse tipo de tumor – pode prevenir a grande maioria dos casos e, combinada com o rastreio e o tratamento, oferece um caminho para a eliminação.

Esse é o quarto tipo de câncer mais comum nas mulheres em todo o mundo e continua a afetar desproporcionalmente as mulheres e as suas famílias em países de baixo e médio rendimento. Numa mudança importante, em 2022, a OMS passou a recomendar a vacinação de dose única contra o HPV. Isso reduziu significativamente as barreiras à intensificação dos programas de vacinação.

Até o momento, 37 países comunicaram mudança ou intenção de mudar para um regime de dose única. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) ainda preconiza o esquema de duas doses, com intervalo de seis meses entre as doses, para meninos e meninas na faixa entre 9 a 14 anos.

Os quase 600 milhões de dólares em novos financiamentos incluem 180 milhões de dólares da Fundação Bill & Melinda Gates, 10 milhões de dólares da UNICEF e 400 milhões de dólares do Banco Mundial.

Existem muitos desafios no caminho para a eliminação do câncer do colo do útero. Devido a restrições de oferta, desafios no parto e à pandemia da Covid-19, apenas uma em cada cinco adolescentes elegíveis foi vacinada em 2022. E embora existam ferramentas econômicas e baseadas em evidências para rastreio e tratamento, menos de 5% das mulheres em muitos países de baixa e média renda já são examinados para câncer cervical.

As restrições do sistema de saúde, os custos, as questões logísticas e a falta de vontade política criaram obstáculos à implementação de programas abrangentes de prevenção e tratamento do câncer do colo do útero. Essas barreiras conduziram a uma profunda desigualdade: das 348 mil mortes estimadas por câncer do colo do útero em 2022, mais de 90% ocorreram em países de baixa e média renda.

De acordo com a OMS, com os governos e os parceiros se comprometendo a tratar com urgência a agenda global de combate à doença, é possível inverter a maré e evitar que as mortes anuais aumentem para 410 mil até 2030, conforme atualmente estimado.