A partir dos resultados da Consumer Sentiment 2023, pesquisa anual do Boston Consulting Group (BCG), identificamos que, embora os viajantes brasileiros se preocupem com temas macroeconômicos, como conflitos geopolíticos, desafios econômicos e mudanças tecnológicas, continuamos dispostos a aumentar os gastos com turismo de lazer. Tal posição nos coloca na liderança de uma lista com 21 países que pretendem gastar mais com turismo neste ano, à frente de nações de referência nesse consumo, como os Estados Unidos.
Essa expectativa de crescimento no turismo de lazer intensifica a recuperação positiva do setor que já havíamos identificado no ano passado, quando o Brasil movimentou valores até 25% acima dos níveis pré-pandêmicos de 2019. Tal impulso se deu em grande parte pela recuperação da demanda e aumento de preços, especialmente nos setores de transporte aéreo e hotelaria. Do mesmo modo, nossas projeções para 2024 indicam uma continuidade desse cenário positivo em vários setores de viagens e turismo, incluindo hotelaria, locação de veículos e agências de viagem.
Quando olho para esses números, identifico duas possíveis explicações para o potencial crescimento nos gastos. A primeira reflete a intenção do brasileiro de realizar viagens com um gasto médio mais elevado, investindo em experiências mais sofisticadas. Já a segunda sugere que, dada a inflação, o consumidor pode estar resignado ao fato de que viajar, inevitavelmente, implicará em maiores gastos.
Mas se a perspectiva de cenário é promissora, com o turismo já movimentando 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, não podemos negar que ela poderia ser ainda melhor. Isso porque as companhias aéreas operam cerca de 13% abaixo dos níveis de passageiros de 2019, o que sinaliza para um problema atual: a menor entrada de turistas no Brasil e a redução na quantidade de brasileiros viajando para o exterior.
Percebo que alguns fatores locais servem de entraves para o turista estrangeiro. Entre eles estão a geografia, o idioma e a segurança pública. O Brasil está longe geograficamente de mercados que poderiam direcionar turistas, como as metrópoles dos Estados Unidos e Europa. Cidades turísticas no Norte e Nordeste não recebem voos diretos, o que exige ao visitante estrangeiro, por vezes, chegar ao país por São Paulo ou Rio de Janeiro e realizar novas conexões. Se tomarmos Cancun, no México, como exemplo de destino com praias paradisíacas que disputariam o olhar do estrangeiro interessado nas praias brasileiras, identificamos que ela recebe seus turistas em voos diretos de grandes cidades norte-americanas. Outro aspecto importante que precisamos reconhecer é o fato de o português não ser tão difundido quanto o inglês ou mesmo o espanhol dos nossos vizinhos latino-americanos. No aspecto conjuntural, as narrativas midiáticas que disseminam episódios de violência urbana contribuem para que turistas em potencial fiquem apreensivos com a segurança.
Qual seria a solução para nos tornarmos mais atrativos ao olhar estrangeiro? Observo em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, uma possível referência para isso. O pequeno destino no Oriente Médio recebeu mais de 15,3 milhões de turistas em 2023, de acordo com dados divulgados pelo Departamento de Economia e Turismo de Dubai. As ações incluíram, mas não se limitaram a:
construção de um aeroporto internacional que serve de hub para o Oriente Médio;
investimento em infraestrutura para receber milhares de turistas, que já superam o número de visitantes de 2019, período pré-pandemia;
campanhas internacionais capazes de transformar um lugar desértico em desejo de influenciadores digitais que seguem propagando as maravilhas locais em suas redes sociais;
simplificação da entrada de estrangeiros;
treinamento de profissionais por meio de um programa chamado The Dubai Way, no qual o Departamento de Economia e Turismo já preparou mais de 70 mil profissionais para trabalharem nos setores de turismo e hospitalidade.
O exemplo de Dubai nos ensina algumas lições para não apenas tornarmos o Brasil mais encantador para o turista estrangeiro, como também para nos prepararmos para o crescimento da demanda interna em 2024. No BCG, identificamos quatro macrotendências às quais empresas públicas e privadas, principalmente dos setores aéreo, hoteleiro e de locação de veículos, devem se atentar neste ano:
emergência de novos perfis e segmentos de viajantes, como turismo de aventura/ecoturismo e “bleisure” (mix de lazer e corporativo);
“omnicanalidade” da integração de todos os canais de comunicação e vendas do negócio, convergindo o mundo físico e o digital;
crescimento de serviços e produtos adjacentes e eficiência operacional;
ecossistemas de parcerias, que inclui segmentos complementares, prestadores de serviço, associações e órgãos governamentais.
Diante do panorama promissor, é evidente que os consumidores nacionais estão ansiosos para retomar suas viagens de lazer, contribuindo significativamente para a recuperação econômica do setor. Preparando-se para atender à crescente demanda interna e removendo obstáculos para visitantes internacionais, o Brasil pode verdadeiramente solidificar sua posição como um destino turístico de excelência em 2024 e além.
Créditos
Com informações da Ideal PR
Foto: Divulgação