A jornalista Lilian Cardoso está acostumada a viver entre livros. Mais que leitora contumaz, treinou profissionalmente o olhar para entender como um livro pode se tornar um sucesso, ajudando escritores a divulgarem seus trabalhos. Especialista em marketing literário, ela tem mais de 14 anos de experiência nos bastidores da produção e divulgação de livros, a partir de sua agência, a LC – Agência de Comunicação, trabalhando com editoras e autores. Ao longo desse tempo, testemunhou a criação e o lançamento de inúmeras obras literárias, com seus desafios e peculiaridades. Resolveu usar o know-how adquirido para ajudar não só a vender livros já finalizados, como para indicar os melhores caminhos aos autores durante a construção da obra para garantir que ela não fique esquecida nas prateleiras.
Assim surgiu o “O Livro Secreto do Escritor”, lançado pela Citadel Grupo Editorial, e batizado desta forma por ser também um workbook em forma de diário para as anotações dos projetos do próprio autor, funcionando como um guia para a escolha de temas, editoras, formatos e passos para as publicações independentes, e revelando os detalhes sobre como chegar à tão desejada lista dos mais vendidos.
Lilian o descreve como “um guia completo, um verdadeiro compêndio de informações organizadas para aqueles que desejam escrever seu primeiro livro ou para autores em busca de mais reconhecimento”. A seguir, em entrevista concedida por e-mail ao DIÁRIO, Lilian Cardoso fala sobre este seu primeiro livro, e sobre o mercado editorial na era dos e-books, booktokers e afins.
P: Há uma certa resistência em tratar o livro como um produto que necessita de estratégias de venda, mapeamento de mercado. É possível conectar o trabalho criativo a essa perspectiva de mercado, sem ter de fazer concessões para fazer sucesso de vendas?
R: Não entendo que seja sobre fazer concessões. Esse olhar para o mercado não tem objetivo de descaracterizar a obra produzida, mas sim, de adequar as formas de divulgação para chegar ao público-alvo. O marketing é um aliado do escritor, que com as técnicas certas, fará com que seu livro chegue aos leitores. Nesse ponto, as redes sociais são importantíssimas, não é à toa que os autores e autoras com perfis mais humanizados têm maior audiência. Quanto à questão de concessões, eu chamo de adequação. O escritor precisa, sim, ouvir o editor. Às vezes, pequenas mudanças no título e nos elementos da capa são o suficiente para a obra ter maior visibilidade, mas isso não é o suficiente para descaracterizar a criatividade e arte do autor, entende? Cada vez mais, os leitores buscam por originalidade, pelo novo… e para entregar isso ao leitor, para finalmente ser lido, é preciso entender o mercado. Quer exemplo de um caso que vejo aqui na agência (e, muitas vezes, conseguimos ajudar antes da publicação)? Autor que lança e-book infantil. Obras infantis NÃO devem ser lançadas como e-books na Amazon. Os pais, professores e responsáveis querem que a criança leia o livro físico, não no celular ou em Kindle. Em um erro como este, o autor faz com que seu título não chegue ao leitor, se frustra, pode abandonar seu sonho. O escritor que conhece o mercado encontra mais portas abertas.
“Cada vez mais, os leitores buscam por originalidade, pelo novo… e para entregar isso ao leitor, para finalmente ser lido, é preciso entender o mercado.”
P: Seu livro é construído como um guia, um livro de trabalho para acompanhar e ser usado pelo escritor ao longo do processo de escritura. Métodos também são importantes para a escrita de uma obra?
R: Senti que faltava uma obra que trouxesse aos escritores os caminhos para escrever, publicar e divulgar um livro. Muitos chegam até a mim com as dúvidas “como faço uma história?”, “como escrevo?”, “como consigo leitores?”. Foi por isso que reuni, nas 304 páginas de “O Livro Secreto do Escritor” todas as possibilidades e um caminho a ser seguido. Na primeira parte trago as informações do mercado, dos bastidores, do que vivenciei nestes 14 anos de agência; na segunda parte há o workbook (que, na minha opinião, é muito especial). Ali, o leitor pode preencher todo seu projeto. É por isso também que dei este título, com a palavra SECRETO, porque quero que seja uma forma de diário aos que desejam produzir um ótimo livro. Acredito muito no método Escritores Admiráveis, que não é uma técnica rígida, mas um passo a passo em que posso guiar o autor de ponta a ponta.
P: Hoje se tem literatura de nichos de uma maneira muito forte, inclusive com as editoras investindo em selos para organizar seus autores e atender a essas diferentes demandas. Isso é algo realmente novo, ou agora é apenas mais claro? Como os escritores podem dar melhor fluidez aos seus trabalhos junto ao público, dentro desse cenário?
R: Esta questão de selos já existe há algum tempo. Quando entrei no mercado editorial, em 2008, isso já era uma febre. Aconteceu até de algumas editoras errarem no início, deixando poucos títulos para cada categoria. Os selos são imprescindíveis para as editoras que têm um grande catálogo e divulgam livros de vários temas. E sim, concordo que esteja mais conhecido agora por conta das redes sociais e do marketing que as editoras têm feito para conectar o leitor à marca. Para o escritor, também é uma oportunidade de entender de que forma escrever para um determinado nicho vai ajudá-lo em toda a construção da marca pessoal. Eu sempre pergunto aos autores: de que forma quer ser reconhecido? Como o poeta? O historiador? O filósofo? Nichar é bom, sim.
P: O papel que as livrarias tinham de fazer essa interface com o leitor, de indicar livros, fazer um título decolar ou não, hoje praticamente inexiste. As vendas se concentraram na internet e os leitores navegam entre milhares de lançamentos. Como pescar esse leitor? Qual a importância dos clubes de assinatura, clubes de debates e influencers de literatura (como os tiktokers) para fazer a diferença e alavancar um livro?
R: A construção do conteúdo nas redes sociais é um caminho seguro, mas o autor precisa persistir e testar até encontrar o que dá certo. Eu mesma demorei até encontrar minha voz nas redes. O que posso recomendar, de coração, é que escritores façam o que chamo de “abrir o livro”. Ler sua poesia; fazer posts relacionados aos temas do título; postar trechos; apresentar personagens, bem como o cenário… O autor deve criar uma jornada para o leitor ter interesse pelo seu título. Vejo que, em 2024, os clubes de assinatura e de leituras em grupos coletivos estarão ainda mais em alta. Os saraus, grupos de leitura, esses encontros que tínhamos antes nas livrarias, agora acontecem virtualmente (algo que se fortaleceu na pandemia). Muitas editoras têm formado seus próprios clubes e os leitores aderem a eles por quererem pertencer a uma comunidade.
A Bienal do Livro do Rio deste ano foi mais uma prova da influência dos tiktokers. Eram filas e filas de leitores que queriam autógrafos destes autores/booktokers nacionais. Este movimento, que deve continuar, é um dos responsáveis por levar os jovens ao universo da leitura. Além disso, pais, professores, artistas e influenciadores de outros segmentos também incentivam a aproximação com a literatura. Tenho uma visão otimista, mas é preciso que o mercado editorial veja o marketing como um aliado e, também, que esteja mais unido. Concorremos com Netflix, com os jogos, os brinquedos supermodernos… com o tempo das pessoas! O preço do livro não é um problema, mas o consumidor precisa ver o valor dele para voltar a consumir mais. E o marketing é o caminho, afinal, o tempo todo na internet vemos oferta de tudo que é produto, então, por que não o livro?
“O preço do livro não é um problema, mas o consumidor precisa ver o valor dele para voltar a consumir mais. E o marketing é o caminho, afinal, o tempo todo na internet vemos oferta de tudo que é produto, então, por que não o livro?”
P: Por todos os seus anos no mercado editorial, trabalhando especificamente com a divulgação de livros, qual você acha que é um erro muito comum a autores que fazem às vezes com que boas obras, bons autores, acabem não tendo a repercussão esperada?
R: O erro pode começar antes mesmo dele publicar. Muitas histórias maravilhosas já chegaram até a nossa agência com capa que não comunicava a mensagem da história, imagem que não tinha a ver com o tema, projeto editorial sem acabamento, sem revisão, diagramação inadequada… detalhes que chamam a atenção dos leitores. Então, posso dizer que a falta de conhecimento sobre os elementos da obra é um erro muito problemático, porque na maioria das vezes, os autores só se dão conta quando já está publicada, impressa, nas mãos e cheia de inadequações. Sei que me pediu só o erro mais comum (risos), mas preciso encerrar a entrevista pedindo aos autores que não desistam das suas obras. Infelizmente, muitos passam tempo dedicados à escrita e depois, em três meses, já desistem da divulgação. Existem mais de 80 tipos de marketing, é impossível não ter alguma comunicação, on-line ou off-line, que possa ajudá-lo a promover seu livro. Se não for um diário secreto, merece, sim, ser trabalhado até que chegue aos leitores.
LEIA
O livro secreto do escritor: da página em branco ao best-seller
Autor: Lilian Cardoso
Editora: Citadel Grupo Editorial
Páginas: 304
Preço: R$ 59,90 (físico); R$ 34,90 (e-book)
Onde encontrar: Amazon