GUILHERME BOTACINI
BOA VISTA, SP (FOLHAPRESS) – Donald Trump venceu as primárias republicanas na Carolina do Sul neste sábado (24), segundo projeções, e consolidou de vez sua posição para ser o adversário de Joe Biden na eleição para presidente dos Estados Unidos em novembro. Trump já venceu em Iowa, New Hampshire e Nevada.
A vitória no estado poderia ser apenas mais um indício das baixas chances que Nikki Haley, a única rival do partido ainda na disputa contra o ex-presidente, leve a indicação da legenda ao fim das primárias.
A republicana, no entanto, foi duas vezes governadora da Carolina do Sul, e era ali que ela esperava por uma improvável reversão das pesquisas de opinião para alavancar sua pré-candidatura contra o favorito, o prognóstico era de ampla vitória trumpista, algo em torno de 63% contra 33%, segundo o site americano FiveThirtyEight.
Neste sábado, o resultado projetado pela imprensa registra 61,9% para Trump e 37,4% para Haley, confirmando a força do empresário dentro do partido.
Trump lidera as pesquisas desde o início da corrida partidária a despeito das ações a que responde na Justiça, que têm comprometido parte considerável de sua verba de campanha, menor que a de Biden e com potencial para diminuir conforme andam os processos.
Haley chegou às primárias em seu estado com algum contingente eleitoral para tentar absorver diante da hegemonia que Trump vem construindo no Partido Republicano. Isso porque a Carolina do Sul não tem registro formal de vinculação partidária, o que significa que uma pessoa que se identifica como democrata pode votar nas primárias republicanas, a não ser que já tenha dado seu voto na primária democrata, ocorrida no início do mês e com vitória total de Biden.
A ex-governadora, no entanto, não buscou explicitamente esses votos e preferiu apostar suas fichas em se contrapor a Trump. Um de seus lemas de campanha, “Make America Normal Again” (faça a América normal novamente) parodia o slogan transformado em movimento do ex-presidente para tentar colar a imagem de caos no adversário.
Se pode até funcionar com alguns democratas indecisos e independentes, por outro lado, não tem mexido a agulha do lado republicano. Nas primárias de Nevada no início de fevereiro, divergências entre a seção do Partido Republicano no estado e uma lei estadual resultaram em duas votações separadas: o caucus, organizado pelo partido e sem Haley na cédula, e a primária, sem Trump, o caucus definiria a pré-eleição em Nevada.
Haley, porém, teve um desempenho pífio, ficando atrás da opção “nenhum candidato” na votação que participou. O ex-presidente havia visitado o estado na semana anterior e pedido aos eleitores que ignorassem a primária e votassem apenas no pleito em que ele estaria na cédula.
No seu estado, o cenário também não era alentador antes das primárias. A base republicana na Carolina do Sul criticou Haley por ter abandonado seus apoiadores depois que deixou de ser governadora, no início de 2017, e assumiu como embaixadora dos EUA nas Nações Unidas durante a Presidência do agora rival.
Um episódio descrito pelo site americano Politico ilustra a crítica. Em dezembro, um funcionário da campanha de Haley teria enviado email para a seção estadual do partido perguntando sobre eventos eleitorais locais para enviar representantes. A prova do desconhecimento sobre a agenda eleitoral no próprio estado teria surpreendido e desagradado a legenda.
“Nós não a abandonamos, ela que nos deixou”, afirmou Allen Olson, que foi líder estadual do Tea Party, movimento conservador dentro do Partido Republicano que se opôs principalmente a políticas econômicas do governo Barack Obama.
Apesar do cenário, Haley manteve até aqui uma base relativamente sólida de doadores de campanha, alguns deles bilionários como os poderosos irmãos Koch, que tem crescido a despeito dos resultados nas primárias iniciais e das projeções mostrando Trump com ampla margem à frente.
Em giro pela Carolina do Sul antes da votação no estado, a ex-governadora insistiu a eleitores que não iria se submeter à liderança do ex-presidente. “Muitos dos políticos que agora abraçam publicamente Trump, privadamente o temem. Eles sabem o desastre que ele foi e continuará sendo para nosso partido. Eles apenas têm medo de dizer isso em voz alta”, disse a apoiadores em Greenville.
Ela seguiu: “Eu não tenho medo de dizer as verdades difíceis em voz alta. Não sinto necessidade de beijar a mão de ninguém. E não tenho medo da retaliação de Trump. Meu próprio futuro político não me preocupa.”