Wal Sarges
A vida e a trajetória de Pierre Beltrand, pseudônimo do colunista Ubiratan de Aguiar (1930-2023), serão tema de livro assinado pelo jornalista Marcelo Pinheiro, colunista do Você. Ainda sem data de lançamento definida, o livro será publicado a partir da dissertação de mestrado de Pinheiro, defendida no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde obteve conceito excelente.
“A dissertação foi recomendada para publicação. Todo esse trabalho começou a partir do meu compromisso de escrever a biografia dele. Então, sempre foi meu objetivo pegar esse material e lançar. A próxima etapa é fazer uma adaptação para torná-la mais comercial, para que as pessoas entendam a importância do Pierre”, diz Marcelo Pinheiro.
Decano da imprensa paraense, Pierre Beltrand foi o colunista com maior tempo de atuação profissional no Brasil, sendo pioneiro no colunismo social. Jornalista e advogado, ele faleceu aos 93 anos de idade, em 25 de janeiro do ano passado. Dessas nove décadas, dedicou-se ao jornalismo por 75 anos. “O Pierre é uma figura muito emblemática, tendo sido pioneiro no uso do videotape, que foi usado no ‘Pierre Show’ [programa de variedades na TV Marajoara], nos primórdios da televisão brasileira”, lembra Pinheiro.
O interesse de Marcelo Pinheiro por retratar a história de Pierre surgiu antes do mestrado, da admiração que tinha por Bira, como o amigo era conhecido entre os seus. Mas ele não se sentia importante a ponto de ser tema de um livro, conta Marcelo Pinheiro.
“Tínhamos uma relação de amizade e eu tinha curiosidade sobre a vida dele. Eu sempre vi a vida do colunista, da figura Pierre Beltrand, com muito encanto, pelas coisas que ele tinha feito. Outra coisa é que ele usava pseudônimo em pleno século 21, isso despertava demais meu interesse. Com a convivência, percebia que tudo aquilo que ele contava era similar àquilo que contava em relação à figura do Pierre, que por ter corpo, as feições e o feitio do Ubiratan de Aguiar, chega-se a um momento que não sabíamos quem era quem. Havia um momento que sentávamos para conversar e eu o chamava de ‘Bira’, mas ele dizia: ‘Bira, não, Pierre’. Assim ele deixava muito claro que quem estava ali era essa figura mítica dele”, relembra. “Tudo o que ele noticiava, ele dizia que era uma promoção que fazia há 50 anos, ou que fazia desde a década de 1950. Começou a curiosidade para saber de onde isso tudo brotava. Isso foi ganhando corpo e eu disse que deveria escrever a biografia dele. Ele relutou, dizendo que não tinha importância”, completa.
Quando a conversa começou a encorpar, os encontros foram aumentando e ganhando forma. “Após algum tempo, quando iniciei o mestrado, já sabia qual seria o tema da dissertação. Fui pedir autorização para ele e a coisa ganhou ares de ciência. Prestei a seleção para o mestrado e, para minha surpresa, tirei primeiro lugar, sendo um comunicólogo fazendo mestrado para o programa de história. Aí naturalmente a responsabilidade e a cobrança vêm junto, porque até então, era um estranho no ninho, num programa de história que é disputadíssimo prestigiadíssimo no Brasil”, elogia ele, para quem o registro histórico está no dia a dia do seu fazer jornalístico.
“O meu trabalho na coluna do DIÁRIO é voltado bastante para o aspecto histórico. O meu conceito de informação é muito atrelado à história. As palavras que os professores me dedicaram com referência ao meu trabalho chegaram para mim como uma credencial”, comenta.
Ele conta que começou a fazer o levantamento da vida de Pierre Beltrand e a desenvolver uma série de entrevistas com ele e com todo mundo que ele achava pertinente como fonte para contar essa história toda. “Porque o Pierre Beltrand não é uma história única de uma pessoa, de uma figura, é a história de uma sociedade. Quando você começa a mexer com a história dele, você vai descobrindo que está toda entrelaçada com uma série de figuras emblemáticas dessa cidade. Aí que a história dele cresceu, porque senti a necessidade de buscar tanto personagens vivos quanto dos descendentes daqueles que já estavam falecidos para me ajudar a recompor essa trajetória toda dele”, detalha.