O monitoramento constante de patógenos e vírus ajuda a controlar doenças e possibilita que autoridades e pesquisadores tenham mais conhecimento para embasar a tomada de decisão em ações de saúde pública, como por exemplo as campanhas de vacinação. A necessidade da vigilância genômica se tornou evidente durante a pandemia de Covid-19, que pegou o mundo de surpresa e sem informações sobre um vírus que, naquela época, era quase desconhecido.
Atualmente, o Centro para Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS), projeto do Instituto Butantan que conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), analisa diariamente a circulação dos vírus da dengue (DENV), gripe (influenza) e Covid-19 (SARS-CoV-2) em algumas regiões do Brasil, em parceria com laboratórios centrais (LACENS) dos estados de Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, São Paulo e no Distrito Federal.
“No CeVIVAS nós conseguimos analisar amostras de estados que antes não tinham nenhum tipo de sequenciamento de forma rotineira, como é o estado do Pará no caso da dengue. A região não tinha nenhuma amostra recente em banco de dados e com o apoio do LACEN nós já podemos ter uma visão da diversidade genética dos vírus nos casos oriundos do estado”, diz o bioinformata do CeVIVAS Alex Ranieri.
Segundo Alex, os sequenciamentos contribuem para a melhoria da saúde pública no país porque permitem estudar a dinâmica da evolução dos vírus nas mais diversas regiões e com diferentes climas. A expectativa é que o projeto chegue a todos os estados brasileiros em breve.
O monitoramento contínuo é importante para conhecer e enfrentar os diferentes desafios que surgem nas mais diversas regiões do país. Esse trabalho contribui para o constante aprimoramento das vacinas produzidas pelo Butantan, o entendimento da relação de parentesco entre os genomas, o local e época de linhagens, e a contabilização de mutações e linhagens por localidade geográfica.
Dengue
De acordo com dados do Ministério da Saúde, na comparação com 2022, o país teve um aumento de 15,8% nos casos de dengue entre os meses de janeiro e outubro de 2023, totalizando mais de 1,6 milhão, e alta de 5,4% no número de óbitos, com 1.053 mortes.
Em 2023, o CeVIVAS sequenciou 295 amostras do vírus entre janeiro e junho nos estados do Mato Grosso, Minas Gerais, Pará e São Paulo, além do Distrito Federal. O que se observa é que há predominância do genótipo 5 do sorotipo 1 em todos os estados estudados, com 243 casos registrados. O genótipo asiático-americano do sorotipo 2 e o genótipo cosmopolita do sorotipo 2 foram encontrados em 26 amostras de cada sorotipo em Minas Gerais, Pará e São Paulo.
Nos últimos anos, o Instituto Butantan, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, vem trabalhando no desenvolvimento da vacina tetravalente e de dose única contra a dengue. Segundo o estudo publicado no New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiosas revistas científicas do mundo, o imunizante evitou a doença em 79,6% dos vacinados ao longo de um período de dois anos, protegendo tanto quem já tinha tido dengue como aqueles sem infecção prévia.
O diferencial do imunizante do Butantan é que ele é composto por vírus geneticamente atenuados, responsáveis por promover proteção contra os quatro sorotipos de dengue de uma só vez. O ensaio clínico envolveu 17 mil voluntários e encontra-se na fase final do acompanhamento de cinco anos de todos os vacinados.
Influenza
No período de final de ano, o vírus que mais circulou nas regiões estudadas pelo CeVIVAS foi o influenza, principalmente o subtipo H1N1 de influenza A, que começou a circular no início de 2023, e a linhagem Victoria de influenza B. Em 2023, até o mês de outubro, o Ministério da Saúde registrou 11.749 casos de influenza e 1.117 óbitos pela doença no Brasil.
Foram 838 amostras sequenciadas em parceria com os LACENS de Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, São Paulo e Distrito Federal. As duas cepas foram encontradas em todos os estados, com exceção do Pará, onde foi encontrada apenas a Victoria em 27 casos. Vale destacar que o estado alagoano registrou ainda o aparecimento de uma única amostra do subtipo H3N2 de influenza A.
No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a produção da vacina trivalente à base de ovos para a próxima campanha de 2024 seja feita com as cepas A/Victoria/4897/2022 (H1N1); A/Thailand/8/2022 (H3N2); e B/Austria/1359417/2021 (B/linhagem Victoria). O Butantan é responsável por produzir 80 milhões de doses ao Ministério da Saúde todos os anos e o imunizante sempre contém dois vírus do subtipo A, atualmente H1N1 e H3N2, encontrados em várias espécies de animais e capazes de infectar humanos. Completa a formulação um vírus do tipo B – atualmente da linhagem Victoria – que infecta apenas seres humanos.
SARS-CoV-2
Embora o vírus evolua rapidamente, a circulação do SARS-CoV-2 está estabilizada, com predominância de amostras do clado XBB, que é uma recombinante entre duas linhagens distintas da variante ômicron.
Entre janeiro e outubro de 2023, foram sequenciadas 1216 amostras no Pará, em São Paulo e no Distrito Federal. Como o vírus da Covid-19 sofre mutações com frequência, foram encontradas 10 subvariantes da ômicron nos casos estudados, mas sem aumento expressivo que cause preocupação à população.
O último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, em setembro de 2023, mostrou que neste ano foram notificados 29.875 casos de Covid-19, com 6.102 óbitos.
FONTE: Butantan