Até o momento, dez das 27 unidades da federação pediram a presença das Forças Armadas para garantir a segurança da votação e da apuração das eleições deste ano, segundo levantamento feito pelo GLOBO com os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) do país.
Um total de 439 cidades solicitou o reforço. O requerimento é praxe durante os pleitos, mas neste tem um caráter especial: o acirramento da polarização política e o temor de violência generalizada por quem desacredita o processo eleitoral.
De acordo com o levantamento, o Maranhão foi o estado que solicitou tropas para mais cidades (97), seguido do Rio de Janeiro (92), Piauí (85), Pará (78), Mato Grosso (29), Acre (22), Mato Grosso do Sul (11), Amazonas (10), Ceará (10) e Tocantins (5).
A defasagem de efetivo policial, a violência urbana, a ausência do Estado em áreas indígenas e quilombolas e a interferência das facções criminosas ligadas ao narcotráfico são as principais motivações dos pedidos.
TSE pede ajuda das Forças Armadas nas eleições
O desembargador Elton Leme, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), explica que é a quinta vez que o estado solicita o reforço das tropas federais nas eleições. Segundo ele, o pedido é necessário pelas características do Rio, que tem a “atuação de alguns grupos criminosos, como a milícia e o tráfico de drogas dominando comunidades”. O clima político mais conflituoso destas eleições gerais, diz Leme, já é algo presente nos pleitos municipais e que, portanto, “não assusta nem amedronta” .
O que temos hoje é essa realidade de acirramento projetada em campo nacional. O que não podemos é pecar por omissão. Por isso, estamos monitorando algumas pessoas que têm conduta mais desviante, para reforçar a segurança dos locais onde elas possam atuar. Além disso, autoridades com notoriedade e que possam ser alvos de manifestação mais violenta – disse Leme.
O diretor-geral do TRE do Pará, Felipe Brito, ressalta que o conflito político, fruto da polarização sem precedentes no contexto nacional, não foi a principal motivação para o pedido de ajuda. O tema, contudo, marcou presença nas reuniões do colegiado de segurança. Segundo ele, um episódio ocorrido no segundo turno das eleições de 2018 é sempre evocado nos encontros como exemplo do que pode ocorrer.
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Na ocasião, um homem que se apresentou como policial militar da reserva gravou um vídeo numa seção eleitoral em Belém afirmando ter havido fraude na urna eletrônica. Depois de digitar o “17 Bolsonaro” e aparecer voto nulo na tela, ele gritou a outros eleitores que estavam falsificando a votação.
Mas, no momento em que apertou 17, do extinto partido PSL, a urna registrava voto para governador, não para presidente. O PSL, naquele ano, não tinha candidato ao governo paraense no segundo turno. A supervisora tentou impedir a filmagem, que é crime eleitoral, e foi empurrada pelo homem. Mais tarde, ele teve a prisão decretada.
A dualidade política é uma questão, mas menor. No Pará não há conflito político forte estadual, que seja igual ao nacional. O que não quer dizer que o tema não esteja dentro da análise do risco. Conflito por disputas políticas é uma possibilidade – afirmou Brito.
O GLOBO apurou que pelo menos cinco estados requisitaram os militares por temer a interferência de facções no processo eleitoral: Acre, Ceará, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Pará.