Seu bolso

“Emprestar o nome” para compras no crédito pode gerar dores de cabeça

A alta inadimplência no Brasil é um reflexo tanto da situação socioeconômica do país quanto da forma como o brasileiro administra suas finanças
Prática é comum, principalmente entre familiares, mas deve ser feita com diálogo e moderação, para evitar constrangimentos ou dívidas crescentes para quem cede o crédito. Saiba o que fazer nesses momentos. FOTO: Wagner Santana

Wesley Costa

No dia a dia é comum ouvir relatos de pessoas que ficaram no prejuízo após o empréstimo do cartão de crédito ou do próprio nome para que terceiros tivessem acesso a crédito financeiro. A prática que, por vezes, é vista como uma atitude solidária entre amigos e parentes, por exemplo, precisa ter os pagamentos acompanhados bem de perto para que o problema não vire uma dor de cabeça, tenha constrangimentos ou o que é pior, uma bola de neve de dívidas.

Uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas, mostrou que nos últimos 12 meses, 27% dos consumidores fizeram compras com cheque, cartão de crédito, crediário, empréstimo ou financiamento utilizando o nome de outra pessoa. Desses, 20% disseram ter utilizado o cartão de crédito; 4% empréstimos e 3% contrataram o crediário.

O estudo da CNDL mostrou ainda que, na hora de pedir o nome emprestado, as pessoas mais procuradas são aquelas do círculo de convivência, como os pais, cônjuges, irmãos, outros familiares e amigos. Os argumentos utilizados pelas pessoas para conseguir o empréstimo do nome também são vários, revelou a pesquisa. 16% dos entrevistados mencionaram a necessidade de fazer supermercado; 20% citaram o pagamento de dívida; e 13% citaram a necessidade de comprar roupas, calçados e acessórios.

O economista Nélio Bordalo, lembra que é preciso ter cuidado na hora de ceder o cartão de crédito ou o próprio nome para outra pessoa adquirir dívidas. “Essa é uma prática comum do povo brasileiro e que merece cuidado. Pois, quando a pessoa não honra com o compromisso, acaba que o titular deve assumir essa dívida. Isso pode gerar uma quebra no orçamento mensal e até mesmo outros ricos como ter o nome inserido do órgão de proteção de crédito”, alertou.

CONFLITOS

O especialista diz ainda que o não pagamento desse empréstimo, pode causar conflitos entre as partes. “Como o próprio estudo mostrou, normalmente são pessoas próximas que fazem os pedidos. Então, quando você dá essa primeira oportunidade, também deve ter ciência que está abrindo margem para que outras pessoas tomem a mesma atitude de pedir, alegando que a prática já foi feita anteriormente. É algo difícil e que gera certo mal-estar em todos”, lembra.

Para evitar comprometer o próprio orçamento com dívidas de terceiros, a dica é conversar e avaliar a situação que está sendo apresentada. “Tem gente que pede o cartão para comprar coisas não urgentes. No caso de um alimento, uma medicação, por exemplo, é possível abrir uma exceção e, se for possível, reunir com outras pessoas da família ou amigos para atender ao pedido, mas sem encarar como empréstimo e sim, com uma ajuda de todos”, orienta Bordalo.

Outra forma de evitar conflitos e a dor de cabeça é ser sincero e objetivo. “De forma educada você pode dizer que seu cartão está com o limite totalmente comprometido, que tem planos para utilizar esse crédito ou ainda, que no momento não dispõe de recursos e reservas financeiras para bancar uma dívida, caso ocorra do emprestador não honra com o seu compromisso”, disse o especialista.