Pará

Pará tem o primeiro Círio do ano realizado neste domingo

Devotos de vários municípios acompanham a imagem de Bom Jesus dos Navegantes e pagam promessas
Devotos de vários municípios acompanham a imagem de Bom Jesus dos Navegantes e pagam promessas

Luiz Octávio Lucas

Em Barcarena, no nordeste do Estado, 2024 já começa com o primeiro Círio do ano no Pará, o de Bom Jesus dos Navegantes, celebrado no Distrito de Vila do Conde. A festividade tem seu ápice neste domingo (14), com a caminhada de fé que mobiliza devotos dos vários municípios do Baixo Tocantins e que peregrinam até a localidade para homenagear o Santo.

Não se sabe ao certo o ano exato em que o Círio de Bom Jesus dos Navegantes foi realizado pela primeira vez, mas é uma tradição de, no mínimo, 80 anos, destaca uma das moradoras mais antigas da comunidade, Maria de Lourdes Bernardes, de 88 anos. “Lembro desse Círio desde que eu tinha nove anos e ele já era realizado há tempos. Quando eu tinha 19 anos, comecei a me entrosar com a igreja e conhecer mais sobre ele”, relata sobre a procissão que era fluvial e hoje é realizada com uma grande caminhada pelas ruas de Vila do Conde.

“Esse Círio começou a vir do centro de Barcarena, era um Círio fluvial, depois passou a sair de uma residência no Rio Arienga, também pelas águas, e ultimamente estava vindo de Abaetetuba, conduzido pela família Tracajá, que fazia a peregrinação nas residências e comunidades”, comenta.

PROGRAMAÇÃO

A edição deste domingo é precedida pela Trasladação, na noite de sábado, quando a imagem peregrina de Bom Jesus dos Navegantes deixa a Igreja Matriz de São João Batista, às 18h, e é conduzida em procissão até a Igreja de Cristo Rei, no bairro industrial l. Já neste domingo, a imagem é trazida no sentido inverso, com o Círio iniciando por volta de 8h da igreja Cristo Rei até a paróquia de São João Batista, onde chega por volta de 11h, sendo celebrada em seguida a Santa Missa.

A Festividade de Bom Jesus dos Navegantes se estende por toda a semana. Até o próximo domingo, a Igreja de São João Batista terá o Santo Terço e a Adoração ao Santíssimo às 18h, todos os dias, seguido de missa às 19h. Haverá ainda programação cultural no salão da igreja, com bingos, leilões e shows musicais. Neste domingo, outra tradição é o almoço do Círio, com comidas paraenses, também no salão.

A Igreja de São João Batista é considerada a segunda mais antiga do Pará, ficando atrás apenas da Igreja do Senhor dos Passos, em Vigia. Datada de 1654, o templo foi construído na época que os padres jesuítas colonizaram o município de Barcarena.

A procissão até a paróquia também será marcada pela saudade. Um dos precursores do Círio, Miguel Tracajá, faleceu há poucos dias. Ela ele que organizava uma caravana com cerca de 12 ônibus de Abaetetuba até a Vila do Conde para que os devotos participassem da festividade, missão que agora estará a cargo da família do pioneiro.

Para Maria de Lourdes, a festividade é um momento de grande alegria na comunidade. “Me sinto feliz de ser católica. Diminuí minha caminhada na igreja pela saúde não estar muito boa e o frei me aposentou como ministra da Eucaristia emérita da comunidade. Bom Jesus dos Navegantes conduz a nossa vida. Todo cristão tem que se apegar a Jesus, que é o caminho, a verdade e a vida”, afirma.

GERAÇÕES

Bem mais jovem que dona Maria de Lourdes, o psicólogo Felipe Anjos, 24 anos, mostra que a fé em Bom Jesus dos Navegantes atravessa gerações. “A devoção começou com meus familiares, como o meu bisavô, já falecido, além de outros vizinhos devotos. Desde minha adolescência estou na comunidade trabalhando. Sou um ‘Severino’”, garante com bom humor.

O paroquiano é voluntário e também ajuda na realização da festividade, que atualmente está sob responsabilidade dos frades Capuchinhos da Paróquia de São Tomé e São Francisco de Assis, na Vila dos Cabanos, além da Comunidade São João Batista.

“Este ano, a oração da comunidade será em busca do restauro da nossa igreja, que vive essa pendência. A preocupação da comunidade gira em torno disso”, conta sobre o templo secular jesuíta, que sofre com a falta de manutenção e restauro. “É uma honra estar servindo Bom Jesus dos Navegantes”, deixa claro.