Nildo Lima
O Parazão 2024, cujo início acontece no próximo sábado, é o 112º da história da competição, que teve o seu começo em 1908, com o União Sportiva, do lendário jogador Marituba, campeão. O time alvinegro ainda viria a conquistar, no ano seguinte, o bicampeonato estadual antes de sumir do mapa, em 1967. A trajetória do primeiro campeão do futebol Pará é parecida – só não em títulos – a de muitas outras agremiações que também desapareceram, deixando apenas seus nomes escritos nos arquivos do Campeonato Paraense, que conta, ao longo desse tempo, com 74 participantes.
Contemporâneos de Remo, Paysandu e um pouco mais tarde, da Tuna Luso, equipes com maior longevidade em participações no campeonato, alguns dos extintos participantes do Parazão marcaram época, fazendo frente aos chamados Gigantes locais, no caso Leão e Papão. Os torcedores mais antigos ainda lembram do poderoso Avante, do jogador Zumbi, primeiro time do interior do Estado a disputar o campeonato, tendo as suas atividades encerradas em 1968, passando a ser apenas um clube social de Salvaterra, sua cidade de origem.
Assim como a equipe do Marajó, alguns outros clubes tiveram momentos marcantes na história do Parazão. Alguns de forma positiva, outros nem tanto. Neste último caso, aparece o Panther, que sofreu a goleada por 17 a 0, aplicada pelo Paysandu, a maior da história do campeonato, em 1922. Se hoje Vênus e Abaeté estão fora da elite do futebol local, em outros tempos, as equipes de Abaetetuba, chegaram a se enfrentar no Parazão, no chamado “Clássico da Cachaça”.
Existem casos de clubes extintos que representavam categorias profissionais e instituições com atividades extra futebol. Armazenador e Combatentes são exemplos desse expediente. O primeiro, na década de 1950, era o clube dos empregados na zona portuária de Belém. Já o segundo, surgiu, no bairro de Canudos, ligado à Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, seção Pará. A equipe disputou o Estadual de 1951 a 1973. O maior feito de sua história foi disputar, em 1968, uma partida extra com o Paysandu para se conhecer o vice-campeão paraense, que acabou sendo o Papão.
Um caso curioso protagonizado por um dos clubes extintos do futebol local é o do Sporting Clube do Pará. O clube surgiu em 1969 por iniciativa de membros da colônia portuguesa radicada em Belém. Para deixar o laço do clube ainda mais forte com suas raízes, os fundadores decidiram não só adotar a camisa do Sporting Clube de Portugal, nas cores verde e branca, como o distintivo da agremiação europeu, contendo o acrônimo “SCP”.
A lista de clubes que não disputam mais o Parazão e que já não existem mais ou estão apenas afastados do campeonato é imensa. Apenas Clube do Remo, Paysandu e Tuna Luso, esta um pouco depois, participam da competição desde seus primórdios. Só os torcedores mais antigos puderam ver em ação equipes como o Auto Clube, Júlio César, Liberato de Castro, Sacramenta, Yamada, Elo Marítimo e tantas outras que hoje fazem parte apenas da memória do futebol local.
Numa época em que Remo e Paysandu ainda não eram tidos como os Titãs do futebol local, o Campeonato Paraense, bem lá pra trás, chegou a contar com um time, o Pará Footbal Club, formado exclusivamente por jogadores ingleses. Eram funcionários de filiais de empresas daquele país instaladas em Belém e que acabaram incentivando a prática do esporte entre os nativos da região. A semeadura acabou vingando e a prova inconteste é que de 1908 em diante não pararam de surgir clubes dispostos a atingir o estrelato no campeonato, com a maioria deles naufragando em seus objetivos.
Recentemente o Santa Cruz, da Vila de Cuiarana, distrito de Salinópolis, apareceu com a promessa de ser a sensação do futebol paraense. O clube, no entanto, acabou não vingando, entrando na lista dos extintos, após duas participações no Estadual – 2013 e 2014. Embora ainda continue filiado à Federação Paraense de Futebol (FPF), o Tigre do Salgado, como era chamado, faz parte da relação de clubes que tiveram uma breve passagem pelo futebol profissional local.
CONFIRA A LISTA:
- Altamira
- Aliança
- Amazonas
- Ananindeua
- Auto Clube
- Avante
- Abaeté
- Armazenador
- Abaetetubense
- Belenenses
- Belém Footbal Club
- Belém Club
- Brasil Club
- Combatentes
- Comercial
- Club Esportivo
- Club Recreativo
- Clube Internacional
- Carajás (licenciado da FPF, disputa apenas a base)
- Elo Marítimo
- Fenix Sport Club
- Guarany
- Júlio César
- Independência
- Internacional (Alenquer)
- Yamada
- Luso Brasileiro
- Liberato de Castro
- Maguary
- Marabá
- Marituba
- Marco
- Norte Clube
- Transviário
- Panther
- Pará Footbal Club
- Paulista
- Sacramenta
- Santarém
- Sporting Foot-Ball
- Sporting Club do Pará
- Sport Foot-Ball Club Team
- Santa Cruz
- Recreativa
- Time Negra
- União Sportiva
- Vênus
Um bicampeão que “morreu” precocemente
Lá se vão 56 anos que o União Sportiva saiu de cena, mas sempre que se fala em Campeonato Paraense é inevitável que o clube, fundado no dia 15 de agosto de 1906, na Praça Justo Chermont, no bairro de Nazaré, em Belém, seja lembrado, afinal de contas o Alvinegro, cujo parto ocorreu dentro da Associação Recreativa “Ernesto Matoso”, carrega a marca de ter sido o primeiro campeão do hoje chamado Parazão. Na época, a competição era chamada apenas de Campeonato Paraense. Tivesse sobrevivido até os dias de hoje, o clube talvez dividisse a popularidade com Remo e Paysandu. Mas o Alvinegro morreu antes de se tornar grande.
Na época de sua fundação, o União tinha como adversário apenas a Associação Desportiva e Recreativa Beneficente e o Sport Club do Pará. Depois surgiram outros clubes, aumentando o número de disputantes do campeonato, que, na verdade, começou em 1906, mas naquele ano não chegou ao seu final. Na volta, em 1908, o União conquistou a Taça Estado do Pará, toda em prata, e, com isso, o primeiro Parazão da história. No ano seguinte, mais uma vez, não houve campeonato, com o Alvinegro conquistando o bicampeonato em 2010.
Além de bicampeã estadual, a União Sportiva conquistou também a Taça Província do Pará (extinto jornal do Estado) e o bicampeonato do Torneio Início em 1924 e 1927. O maior futebolista da história do clube foi Euclides Pessoa do Nascimento, o Marituba, que tornou-se o recordista de prolongamento de carreira, jogando durante 25 anos (de 1917 a 1942), sempre no União, que tinha como nome oficial Sociedade Athlética União Sportiva. Reza a lenda que Marituba se deslocava da cidade que carregava o apelido até Belém correndo e ainda jogava as partidas de seu time o tempo inteiro.
O pequeno grande goleiro do Liberato de Castro
Com apenas 1m63, quem não o viu jogar jamais apostaria que Miguel Ângelo Rodrigues Oliveira, foi um dos maiores goleiros da história do futebol paraense. Pois foi. Apesar da baixa estatura, o ex-jogador operava milagres embaixo da trave. Apesar de toda a sua qualidade, Miguelzinho, como ficou mais conhecido dentro e fora de campo, por questão óbvia, jamais jogou “de verdade” por um dos grandes clubes locais. O ex-arqueiro tinha como característica, além das grandes defesas, mesmo em lances aéreos, algo jamais visto no futebol brasileiro e talvez mundial: ele jamais foi buscar a bola no fundo da rede após sofrer gol.
O início da carreira do pequeno grande goleiro aconteceu na seleção de sua cidade natal, Capanema, pela qual conquistou o tricampeonato do Intermunicipal, em 1972. As boas atuações pelo time do interior lhe rendeu o convite para vir para o Paysandu, onde passou pouco tempo, se transferindo, em 1973, para o extinto Liberato de Castro, pelo qual fez história, ficando no Fantasma, como era apelidado o clube, até 1977, indo, em 1978, para o Sporting Clube do Pará, outro clube desaparecido, retornando no ano seguinte ao antigo clube.
Hoje com 70 anos, morando em Capanema, Miguelzinho se dedica a sua escolinha de futebol, mas tendo saudades da época em que recebeu, como diz, “muito aperto de mão de grandes goleadores”. O ex-jogador admite que o Liberato jamais foi um super time, mas em 1973, pregou muitas peças nos adversários. “Tanto que o clube recebeu o apelido de Fantasma”, diz. “A gente complicou a vida de muita gente”, garante. Sobre o fator altura, ele salienta: “Naquela época o futebol não contava com tantos goleiros altos. Hoje isso é uma exigência”, ressalta.
Mas não foram apenas os torcedores paraenses que puderam ver as grandes atuações do arqueiro. “Em 1981 e 82, disputei o Carioca pelo Olaria-RJ, mas pouca gente sabe disso. A imprensa local daquela época só dava espaço para os ‘medalhões’ e eu não era um deles”, acusa o ex-goleiro, que também atuou, fora do Pará, defendendo o Oratório-AP e o Amapá Clube-AP. Sobre o fato de não ir buscar a bola na rede, comentou: “Já me esforçava muito no gol, então não era justo eu ainda ter de apanhar a bola na rede. Deixava esse trabalho para algum outro jogador nosso ou aos atacantes adversários, a quem eu sempre agradecia”, justifica.