
Ana Laura Costa
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), em decorrência das mudanças climáticas em conjunto à ocorrência do fenômeno natural El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico na sua porção equatorial, 2024 deve ser ainda mais quente que o ano passado.
Inclusive, a onda de calor que atingiu partes do Brasil em 2023, teve influência do fenômeno El Niño. No entanto, o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet/PA), José Raimundo Abreu, explica que embora o fenômeno provoque a redução das chuvas na região Norte do país, como ocorreu em 2023, principalmente na capital paraense e na região metropolitana, que culminou também no aumento da temperatura em meados de agosto a outubro, o pior já passou.
“A tendência é que o fenômeno continue até os meses de março ou abril. Mas pelas minhas observações, o Oceano Atlântico começou a esfriar e as águas do Oceano Pacífico também. Tivemos redução de chuvas somente em dois meses, agosto e setembro. Desde outubro não tivemos grandes impactos em decorrência do El Niño. No mês de outubro, por exemplo, tivemos chuvas próximo à média prevista. Em novembro, a quantidade de chuva estava dentro da média e em dezembro do ano passado, ultrapassou”.
Portanto, o período do inverno amazônico, que geralmente ocorre de dezembro a maio na região, não deve ser impactado. “O pior já passou, não vai ter seca mais na região, pode haver uma pequena redução das chuvas, mas quem vai reger é o Oceano Atlântico e não vai causar impacto no Pará e Região Metropolitana de Belém, nem no nosso inverno amazônico. Ou seja, não teremos prejuízos ao agricultor e população em geral”, ressalta.
“Essa semana vamos ter chuva. Podemos ter alguns dias sem chuvas em janeiro, sim. Mas já chegamos a 40 milímetros, a previsão para este mês é de 330 milímetros de chuva”, diz.
O que é e quais os impactos do El Niño
- O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador, podendo se estender desde a costa da América do Sul até o meio do Pacífico Equatorial.
- Durante o fenômeno, que, normalmente, começa a se formar no segundo semestre do ano, as águas ficam, pelo menos, 0,5°C acima da média por um longo período de tempo de, no mínimo, seis meses. Vale lembrar que ele não tem um período de duração definido, podendo persistir até dois anos ou mais.
- Durante a formação do El Niño, o comportamento dos ventos alísios tem papel fundamental. Os alísios são ventos constantes vindos dos Hemisférios Sul e Norte, que se encontram na região da Linha do Equador e seguem do leste para o oeste do planeta Terra.
- Normalmente, o movimento dos ventos interfere no Oceano Pacífico e empurra as águas da superfície para o oeste, permitindo que as mais profundas e frias subam. No entanto, quando os ventos alísios estão enfraquecidos ou invertem a direção, essa troca de águas não ocorre e as mais quentes permanecem por mais tempo paradas na superfície, podendo chegar até 3°C ou mais acima da média, formando, assim, o El Niño.
- No Brasil, o fenômeno aumenta o risco de seca na faixa norte das regiões Norte e Nordeste e de grandes volumes de chuva no Sul do País. Isso ocorre porque a água da superfície do Pacífico, que está muito mais quente do que o normal, evapora com mais facilidade. Ou seja, o ar quente sobe para a atmosfera mais alta, levando umidade e formando uma grande quantidade de nuvens carregadas.
- Logo, no meio do Oceano Pacífico, chove muito e com frequência durante o El Niño. Durante as chuvas, esse mesmo ar quente, agora mais seco, continua circulando e, dessa vez, desce no norte da América do Sul, inibindo a formação de nuvens e, consequentemente, a ocorrência de chuvas em parte do Norte e Nordeste do Brasil. Afinal, o ar que provoca a formação de nuvens é aquele que sobe da superfície terrestre para a atmosfera e não o contrário.
- Na Região Sul, o El Niño aumenta a probabilidade de chuvas acima da média porque a circulação dos ventos em grande escala, causada pelo El Niño, também interfere em outro padrão de circulação de ventos na direção norte-sul e essa interferência age como uma barreira, impedindo que as frentes frias, que chegam pelo Hemisfério Sul, avancem pelo país. Logo, as frentes ficam concentradas por mais tempo na Região Sul do Brasil.
FONTE: Instituto Nacional de Meteorologia