Entretenimento

E assim foi 2023, o ano do chifre encantado

Shakira ganhou o Grammy Latino de música do ano com “Bzrp Music Sessions, Vol. 53”, cheia de indiretas ao ex-marido, o ex-jogador de futebol Gerard Piqué, que a traiu
Shakira ganhou o Grammy Latino de música do ano com “Bzrp Music Sessions, Vol. 53”, cheia de indiretas ao ex-marido, o ex-jogador de futebol Gerard Piqué, que a traiu

Lucas Brêda

FOLHAPRESS / SÃO PAULO, SP

Na música, o ano que chega ao fim foi do chifre e do namoro mal acabado. Não é como se músicas sobre traições, pessoas que são trocadas num relacionamento ou sentem ódio de um ex não fizessem sucesso desde que o mundo é mundo, mas este ano elas estiveram no centro dos holofotes.

Lá fora, a cantora SZA encabeça listas de melhores do ano da crítica e mais ouvidos no streaming com o álbum “SOS”, do hit “Kill Bill”, em que ela canta a vontade de matar seu ex e a namorada dele. A americana, que foi escalada para o próximo Lollapalooza Brasil, se tornou o nome com mais indicações ao próximo Grammy.

Shakira ganhou o Grammy Latino de música do ano com “Bzrp Music Sessions, Vol. 53”, cheia de indiretas ao ex-marido, o ex-jogador de futebol Gerard Piqué, que a traiu. A faixa mais ouvida do mundo no Spotify, “Flowers”, de Miley Cyrus, traz a cantora desabafando sobre o fim de seu casamento com o ator Liam Hemsworth.

No Brasil não foi tão diferente. O arrocha teve crescimento este ano, puxado principalmente pelo sergipano Nadson, o Ferinha, de 21 anos. Entre seus sucessos estão “Posta Aí”, em que pede que a ex o bloqueie nas redes sociais antes de compartilhar mentiras sobre o relacionamento, e “Cadê Seu Namorado, Moça?”, onde deseja à ex que tudo dê errado.

Um dos acontecimentos que paralisou o Brasil tem tudo a ver com chifre e ódio ao ex. O disco “Escândalo Íntimo”, de Luísa Sonza, acabou ofuscado por seu romance com o streamer Chico Moedas, retratado no hit “Chico”, que gerou a cena da cantora lendo uma carta em que expunha como foi traída ao vivo durante o programa “Mais Você”, de Ana Maria Braga.

Curiosamente, o sertanejo, gênero repleto de músicas sobre traição e que emplacou quatro dos cinco artistas mais ouvidos do ano no Spotify, não teve tantos hits de dor de cotovelo. O sucesso “Erro Gostoso”, de Simone Mendes, narra a história de uma amante dividida entre o prazer e a culpa de viver um romance proibido, enquanto “Leão”, hit póstumo na voz de Marília Mendonça, é sobre uma paixão avassaladora.

A música mais tocada do ano no streaming, “Nosso Quadro”, da artista mais escutada, Ana Castela, retrata um namoro que “parou pela metade”, por cima de batidas que remetem ao reggaeton.

Essa mistura de letras sobre a vida no campo com música eletrônica, aliás, deu o tom de “Ela Pirou na Dodge Ram”, hit de Luan Pereira, em parceria com o funkeiro Ryan SP – o único nome fora do sertanejo entre os cincos mais populares do Spotify. A dupla repetiu a aposta em “Dentro da Hilux”.

No funk, o ano também foi de reconhecimento internacional a DJs com músicas estouradas nos bailes. O DJ K, sucesso em São Paulo, foi elogiado pela Bíblia indie dos Estados Unidos, o Pitchfork, com sua abordagem sombria do mandelão, o funk bruxaria. O site deu nota alta a “Sexta dos Crias”, do carioca DJ Ramon Sucesso, com seu beat do tipo bolha e seus sets mixados cheios de improviso.

GRANDES SHOWS

Este também foi o ano da abundância da música ao vivo. Só a cidade de São Paulo recebeu três megafestivais, o Lollapalooza (com destaque para os shows de Rosalía e Billie Eilish), o The Town (com Bruno Mars) e o Primavera Sound (com The Cure).

O país também chacoalhou com a primeira turnê de Taylor Swift, a artista mais ouvida do ano no Spotify – desbancando o porto-riquenho Bad Bunny, no posto há dois anos consecutivos. Swift reuniu multidões por onde passou e, no Rio de Janeiro, viu a fã Ana Benevides morrer num dia em que a sensação térmica passou de 60ºC.

Além de Swift, passaram pelo país nome como The Weeknd, Red Hot Chili Peppers, Roger Waters e Paul McCartney, todos eles lotando estádios. Mas nenhum desses nomes causou tanto alvoroço quanto a turnê de reunião do RBD, o grupo mexicano saído da novela “Rebelde”, sucesso nos anos 2000.

NOSTALGIA

O rebuliço com as apresentações mostram uma tendência cada vez mais presente na indústria do entretenimento: os shows de reunião que mexem com a nostalgia. Outros nomes se reuniram para turnês disputadas, casos de NX Zero e Restart, enquanto Pitty levou aos palcos o show de “Admirável Chip Novo”, seu primeiro e mais conhecido álbum, de 2003.

Os Titãs surfaram nessa onda, reunindo seus integrantes clássicos, como Nando Reis e Arnaldo Antunes, e caindo na estrada novamente. Já Caetano Veloso levou de volta aos palcos “Transa”, celebrado disco de 1972.

Entre os lançamentos nacionais, o último disco de Elza Soares, “No Tempo da Intolerância”, veio ao mundo, e João Gilberto ganhou um álbum póstumo, “Relicário”. Entre outros discos que marcaram o ano estão o samba rebobinado em rap de Marcelo D2, com “Iboru”.

Lá fora, os Rolling Stones lançaram “Hackney Diamonds”, primeiro álbum de inéditas em quase 20 anos. O Metallica quebrou um hiato de quase dez anos, com “72 Seasons”, enquanto o Foo Fighters fez seu primeiro álbum após a morte do baterista Taylor Hawkins, “But Here We Are”.

Os ritmos latinos também se mantiveram em alta, com Peso Pluma, rapper do México, que lançou “Génesis”, e Karol G, reggaetonera da Colômbia, com “Manana Será Bonito”.

LUTO

O ano também foi de perdas na música. Rita Lee, um dos grandes nomes da música brasileira, morreu em maio e foi alvo de homenagens de artistas e fãs Brasil afora. Nos deixaram ainda João Donato, craque do piano, Luiz Schiavon, tecladista do RPM, Canisso, baixista dos Raimundos, Astrud Gilberto, a voz da bossa nova no mundo, e Lanny Gordin, o guitarrista da tropicália.

No mundo, a música perdeu o renomado cantor americano Tony Bennett, a roqueira pop Tina Turner, o mago japonês da composição Ryuichi Sakamoto, o cantor americano de folk David Crosby, o ex-baixista dos Smiths, Andy Rourke, e a cantora irlandesa Sinéad O’Connor.