Agência O Globo
Imagine ser vítima de um golpe, perder mais de R$ 3 mil e ainda ouvir os criminosos caçoando de você – no caso, de dentro de uma prisão. Foi o que aconteceu com a atriz Natália Lage, que já atuou em novelas e programas da Globo como “A Grande Família” e “Malhação”. Recentemente, ela contou no programa “Que história é essa, Porchat?”, como caiu no golpe da falsa imobiliária enquanto procurava um novo apartamento no Rio. A história viralizou nas redes e muita gente apontou que a atriz não foi a única vítima.
Depois de uma série de buscas em sites e aplicativos, ela encontrou um apartamento com quatro quartos e vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, por R$ 3.600 por mês. Começaram as tratativas com uma suposta funcionária da imobiliária pelo WhatsApp.
Para “reservar” o imóvel, a pessoa pediu um depósito adiantado no valor do aluguel, além de todos os seus dados pessoais. Ela fez. Pouco tempo depois, foi informada de que outra pessoa também estava interessada, então, uma nova transferência seria necessária para não perder o imóvel. Ela então desconfiou e se recusou. Foi quando Natália percebeu se tratar de um golpe. Os bandidos mandaram um vídeo apontando que se tratava de uma imobiliária falsa, com logotipo e tudo, e que estavam dentro de uma prisão. Segundo ela, cerca de três semanas depois, o anúncio falso ainda estava na internet.
Pode parecer apenas um azar, mas de acordo com uma apuração do programa citada pelo apresentador, ao menos outras 49 pessoas foram enganadas pelos mesmos criminosos.
Um levantamento feito pela OLX identificou 2,8 mil anúncios falsos de casas e apartamentos de temporada nos cinco primeiros meses de 2023 na plataforma de compra e venda. Mas como se proteger de golpes na hora de alugar ou comprar um imóvel sem abrir mão das facilidades da internet?
A advogada especialista em defesa do consumidor Janaina Mallet explica que pedir dados do futuro locatário é uma prática comum entre corretores imobiliários a fim de fazer uma análise sobre o perfil e a renda daquela pessoa. Ela destaca que pagamentos adiantados, no entanto, são uma prática irregular e podem ser o primeiro sinal de um golpe.
– O consumidor tem que ter muita cautela. Não se pode adiantar o valor sem ter efetivamente a garantia da prestação do serviço. Taxas de contrato que possam vir a ser cobradas também são irregulares – diz a advogada, que também enfatiza a importância de se certificar de que o anunciante é de fato o proprietário ou procurador do imóvel. – Por outro lado, é praxe locador ou imobiliária solicitarem documentos como RG e CPF para fazer uma análise daquele que pretende ser o inquilino, porque ele tem que saber quem é aquela pessoa que está querendo alugar o imóvel. Isso é lícito.
As plataformas de compra e aluguel de imóveis são responsáveis caso um usuário sofra um golpe? Depende. Segundo Janaina, é preciso analisar caso a caso, desde a maneira como o crime foi praticado até o anúncio do golpe:
– Na questão da responsabilidade, a gente sempre pode estender de alguma forma. Pela lei, todo aquele que participa da cadeia de consumo, independentemente de ter agido com culpa, vai responder à Justiça se o consumidor for lesado. Vamos ter que entender os detalhes, mas, em linha geral, as plataformas podem ser responsabilizadas.
Questionada pelo GLOBO se responde por eventuais fraudes, o Zap Imóveis, da OLX, diz que todo usuário da plataforma (quem compra e quem vende) precisa fazer um cadastro com suas informações para usá-la, o que, na visão da companhia, evita golpes. “As fraudes acontecem quando não se deixa rastros, o que, no caso do Zap, como existe um cadastro e identificação do usuário e do cliente, existe”, afirmou a empresa em nota.
Já o QuintoAndar diz adotar medidas para prevenir fraudes em sua plataforma, como avaliar a documentação do proprietário e visitar previamente os imóveis para garantir que as informações do anúncio são verídicas. “Compartilhamos conteúdos que reforçam os cuidados a serem adotados individualmente por cada usuário e, em caso de possíveis golpes, atuamos junto aos usuários envolvidos a fim de apoiá-los no que for cabível”, diz comunicado da empresa.
Como não se tornar mais uma vítima:
O cuidado começa no anúncio
Tome cuidado com preços muito baixos relacionados a imóveis ou anúncios em redes e plataformas digitais sem fotos. De acordo com um levantamento feito pela OLX, 83% dos anúncios falsos identificados pela plataforma de anúncios de imóveis nos cinco primeiros meses de 2023 mostravam casas e apartamentos grandes com aluguel de até R$ 2 mil mensais, uma faixa bem abaixo da média do mercado.
Sem pressa
Quando um anunciante tiver muita pressa para fechar o acordo, desconfie. Afinal, não se fecha um contrato de aluguel ou de compra e venda de uma hora para outra. Os golpistas, muitas vezes, pressionam as vítimas para tomar decisões rápidas, alegando que a oferta é por tempo limitado.
Saiba com quem está falando
Encontre uma forma de se certificar de que você está conversando com a pessoa certa. Tenha certeza de que o anunciante é de fato o proprietário ou o procurador do imóvel, o que pode ser verificado a partir de documentos como contas recentes de água e luz, por exemplo, ou escrituras e registros da propriedade. Se a pessoa hesitar em ser transparente com você, é um sinal de alerta.
Não saia da plataforma
Se você estiver negociando em plataformas de compra e aluguel de imóveis, evite sair dela e levar a conversa para outros aplicativos de mensagem, que são ambientes menos seguros. Também desconfie se o vendedor evitar se comunicar por escrito ou insistir em meios de pagamento não convencionais, alegando que apenas aceita pagamento em dinheiro, por exemplo.
Se possível, visite o imóvel
Verifique a real existência do imóvel. Se possível, agende uma visita e fale com vizinhos para ter conhecimento da história do lugar. Se houve alguma tentativa de golpe anteriormente, provavelmente as pessoas que moram perto ou trabalham no prédio vão saber. Mas caso você não possa ir até o local, vale checar o endereço através de aplicativos de geolocalização, como o Google Maps.
Veja a reputação da imobiliária
Sempre negocie com imobiliárias e corretores credenciados, checando se o registro do profissional está ativo no site do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci), que fiscaliza a atuação dos corretores imobiliários do seu estado. Também vale checar a reputação da empresa em sites de reclamação na internet, onde pode haver críticas ou queixas de golpe. Caso desconfie de algo durante a negociação, interrompa a conversa imediatamente e denuncie o golpista no site ou plataforma de anúncios.