Diego Monteiro
O Natal é uma celebração que transcende séculos e fronteiras, possui uma rica história que mescla tradições antigas, influências religiosas e carrega elementos originários de diferentes culturas. Apesar de ser, atualmente, uma comemoração ao nascimento de Jesus, a data não tem sua origem no cristianismo, mas sim em ritos pagãos indo-europeus que remontam à épocas anteriores a Cristo.
Segundo Walison Dias, mestre em Ciências da Religião e docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA), os primeiros vestígios do Natal podem ser identificados entre os povos nórdicos, que celebravam a transição do verão por meio de grandes festas repletas de alimentos e bebidas. Além disso, a prática de utilizar árvores para alimentar o fogo era uma característica proeminente dessas celebrações.
“Se pararmos para analisar podemos observar alguns indícios que simbolizavam o Natal antes do cristianismo, como o próprio uso da árvore, que era um símbolo bem presente naquela festa, e, posteriormente, a fartura em alimentos e bebidas. Embora considerados símbolos das festividades pagãs, esses elementos perduram até os dias atuais”, observa Walison.
Outro aspecto relevante remonta à antiguidade, quando civilizações como romanos e celtas celebravam o Natalis Solis Invicti, o “Nascimento do Sol Invencível”, em homenagem ao Deus Sol. Essas celebrações envolviam banquetes, trocas de presentes e decorações festivas, elementos que, por exemplo, podem ser vistos nos lares de cada família neste mês de dezembro.
Nesse contexto, de acordo com o professor, as festividades se estendiam do dia 17 ao dia 24 de dezembro, bem diferente de como acontece atualmente. “Eram festas em que os romanos adornavam toda Roma com máscaras coloridas. Uma celebração que mobilizava praticamente toda a população e englobava diversas famílias, assemelhando-se, nesse sentido, ao que conhecemos hoje”, afirma.
CRISTIANISMO
Com o passar dos séculos, a chegada do cristianismo conferiu uma nova dimensão ao Natal. No século IV, a Igreja cristã oficializou o dia 25 de dezembro como a data do nascimento de Jesus Cristo, associando a “Luz do Mundo” ao simbolismo do sol. A celebração tornou-se uma fusão de tradições pagãs e cristãs, com as pessoas incorporando elementos de ambos os contextos em suas festividades.
Walison esclarece que, do ponto de vista histórico e bíblico, não há qualquer referência de que Jesus tenha nascido em 25 de dezembro. Essa data é meramente uma convenção histórica, pois, naquela época, celebrava-se o nascimento do deus Mitra e do Sol no mesmo dia. O primeiro registro dessa data como nascimento de Cristo ocorreu em 336 d.C., durante o reinado do imperador Constantino.
“Alguns anos depois, o Papa Júlio 1º proclamou 25 de dezembro a data oficial do Natal. Escritos da época sugerem que a essa altura ninguém sabia mais o dia exato do aniversário, logo a escolha foi por outras razões. Desde então, quando Constantino tornou a igreja católica oficial do estado é que a data que conhecemos hoje se transforma em uma festa religiosa”, completa o docente.
Conforme o texto sagrado descrito no Novo Testamento, nos evangelhos de Mateus e Lucas, as versões para o evento são diferentes. Apesar de narrar o nascimento de Jesus como um evento, nenhum dos dois evangelhos mencionam o dia 25 como a data do acontecimento. “Concluímos que a igreja escolheu este dia para apagar o registro de comemoração do nascimento do Deus Mitra e Sol”, disse Walison.
Ao longo da Idade Média, o Natal assumiu diversas formas na Europa, destacando-se por banquetes elaborados, repletos de frutas e iguarias, apresentações teatrais e músicas festivas. Contudo, é importante salientar que o foco religioso manteve-se central até os dias atuais, enfatizando o nascimento de Jesus como o acontecimento mais significativo.