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Murilo Couto apresenta seu “Especial de Natal” em Belém

A saída não foi por brigas ou mágoas. Couto queria se dedicar mais ao seu projeto na internet, que conta com mais de 2 milhões de seguidores, e ao seu atual espetáculo de stand-up, que é um sucesso de público.
FOTO: DIVULGAÇÃO
A saída não foi por brigas ou mágoas. Couto queria se dedicar mais ao seu projeto na internet, que conta com mais de 2 milhões de seguidores, e ao seu atual espetáculo de stand-up, que é um sucesso de público. FOTO: DIVULGAÇÃO

Texto: Tylon Maués

Não está fácil a vida de comediante no Brasil. Pelo menos se ele quiser competir com a realidade. Por isso o paraense Murilo Couto se entregou a outras vertentes do humor. Em seu novo show de comédia stand up, ele se entrega a uma palestra motivacional de autoconhecimento, transformação espiritual e desenvolvimento pessoal, profissional e financeiro. Uma amostra do que pode fazer um perdedor cheio de autoconfiança. É esse espetáculo e mais várias coisas preparadas para a plateia paraense que ele se apresenta nesta quinta e sexta-feira no Teatro Maria Sylvia Nunes, nos últimos shows do ano.

“É difícil pro comediante competir com a realidade, viu? É bem difícil, ainda mais no Brasil”, revela Murilo, citando em entrevista exclusiva ao DIÁRIO os acontecimentos no país em 2023, em especial numa culminância de fim de ano. Integrante do elenco do programa “The Noite”, no SBT, ele tem um canal no YouTube (youtube.com/murilocouto) com mais de um milhão e meio de inscritos. Em Belém, no “Especial de Natal”, ele apresenta uma mistura dos espetáculos “Fazendo Suas Graça”, “Gala Seca” e “Murilo Coach – Mindset”. Às vezes, tenta mostrar porque se considera “o maior rapper vivo… ou não”.

Diante de seu público mais antigo, Murilo admite que quando se vê frente a frente com familiares e amigos, prefere nem vê-los, colocando-os em locais do teatro bem longe da vista. “Sempre acho que a pessoa vai achar ruim”, diz o comediante, num arroubo de “sincericismo” sobre quem o conhece bem. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o ano para a comédia, sobre o público paraense, novidades na apresentação, tacacá e marombeiros traficantes.

P – Nos últimos shows do ano, em Belém, qual o balanço que fazes de 2023 no humor brasileiro?

R Pô, acho que foi um ano bem legal pra comédia. O stand-up comedy tá se estabelecendo mesmo. Acho que a gente já passou por alguns picos de público. O primeiro foi na época do CQC, em 2008. A comédia está bem estabelecida num patamar bem legal. Tem muito comediante bom e novo surgindo de vários lugares diferentes, de vários estados. Eu acho que já não é mais uma coisa presa no Sudeste, né? Acho que foi um ano onde vários nichos de comediantes se estabeleceram. Tem o Diogo Almeida, que faz comédia para professor, tem um cara que faz comédia para quem gosta de gatos, tem alguns comediantes que falam sobre o interior de cada região, além de outras formas de comédia também na internet. Acho que tem sido um ano muito legal para os comediantes que estão há mais tempo se ligarem, também, com a necessidade de se renovar, se atualizar, tanto nas piadas como nas formas de passar essa piada para frente.

P – Fazer show em Belém é diferenciado? Você olha a plateia e vê amigos, familiares, uma ex-namorada, algo assim?

R Fazer show em Belém é outra coisa mesmo, é outra energia para qualquer pessoa que vem fazer show aqui. Qualquer pessoa que vem já sente que é outro esquema na nossa cidade. A galera é muito empolgada, a plateia vai com muita vontade, ri demais, entende? Gosta muito, então todo comediante que vem comentar comigo, volta impressionado de como foi a energia da plateia, como a cidade é legal. Isso é uma coisa muito boa para qualquer comediante e, para mim, que estou em casa, é melhor ainda. Tem piadas que eu só consigo fazer em Belém, falando do sotaque, falando de algumas características da região, falando de algumas pessoas que a gente conhece que a galera no resto do Brasil não conhece. Sem falar dos amigos mesmo e da família na plateia. Isso é uma coisa que me deixa muito nervoso, na verdade. Eu não gosto de ter gente conhecida minha na plateia. Sempre que vêm me pedir, eu boto a galera um pouco escondida, meio para o lado, meio num lugar que eu não consiga ver, entendeu? Fico tenso pra caramba, eu fico nervoso. Eu sempre acho que a pessoa vai achar ruim.

P – Para quem é daqui e já te viu no palco, o que esse show terá de novidade?

R Quem já me viu várias vezes, eu acho que entendeu um pouco que o show sempre é meio diferente. Às vezes eu até faço alguns sets de piadas iguais, mas acaba mudando um pouco assim. Eu tento deixar o show meio espontâneo. Às vezes acontecem coisas na hora que vão ser diferentes do show passado, entendeu? E fora que eu vou vir com outros sets de piadas diferentes do que eu fiz agora no meio do ano, em Belém. Sempre com aquele mesmo estilo meu, vagabundo e de mau gosto. Mas uma coisa legal também que eu estou tentando fazer em Belém é trazer os comediantes da região. A cena de comédia em Belém é forte, tem vários grupos diferentes e eu coloco várias participações para mostrar o trabalho, e isso é bom pra mim também, acompanhar o que a galera está fazendo de diferente. O pessoal é muito bom, original, então pra mim é a oportunidade de assistir a galera ao vivo.

P – Quantas vezes nos últimos dias tiveste que explicar ao pessoal de fora o que é tacacá? Nas explicações, contaste a verdade ou inventaste algo?

R Pô, essa do tacacá foi demais, cara. Muito boa. Eu expliquei algumas vezes pra uma galera, mesmo. Depois da música da Joelma viralizou, quer dizer, essa música é antiga, mas eu não sei o que aconteceu, eu não consigo parar de ouvir essa música na voz do Poze do Rodo, que fizeram na inteligência artificial. E agora ele mesmo incluiu a música no show dele. Eu acho que explico certo, mas eu sou tão burro que eu nem sei se eu sei certo, entendeu? Eu já vi paulista me corrigindo e falando melhor que eu. Aí eu finjo que é piada. Eu falo, ‘é, eu sei, estou de brincadeira’, mas na verdade eu sou burro mesmo.

PNos últimos anos a política ganhou espaço maior ainda no dia a dia do brasileiro, com situações surreais de todos os lados, sem falar das polêmicas com celebridades, influenciadores sendo presos e a seleção brasileira indo de mal a pior. O humor está perdendo a concorrência para a realidade?

R Cara, é difícil pro comediante competir com a realidade, viu? É bem difícil, ainda mais no Brasil. Os roteiristas do Brasil são muito bons, pô! Cada dia acontece uma coisa absurda. Semana passada era o (Renato) Cariani, essa semana já ficou velho, porque o Marcelinho Carioca estava comendo uma mulher casada e apanhou do chifrudo. Ao mesmo tempo em que o jogo do Tigrinho estava prendendo os influencers em Belém. Então, para o comediante é difícil competir, mas o certo não é o comediante competir e sim aproveitar. E só ir jogando no palco. Nosso trabalho é simplesmente narrar os fatos que são inacreditáveis de um jeito de stand-up, porque a piada já tá pronta. Se eu quiser inventar uma coisa melhor, a realidade sempre vence. “Breaking Bad”, que era um professor de Química traficante e isso já assustava, imagina um influencer marombeiro traficante de crack? Isso é bom demais.

ASSISTA

Murilo Couto – Especial de Natal
Quando: Quinta, 21, às 19h15, e sexta, 22, às 21h.
Onde: Teatro Maria Sylvia Nunes (Estação das Docas – Boulevard Castilhos França – s/n – Campina)
Quanto: R$ 60 e R$ 120, à venda no ingressodigital.com
Classificação: 12 anos