Um barco transformado em uma estação multimídia, com sistema de imagem, som e projeção, será a base para uma incursão artística na região das ilhas de Belém, nesta quinta, 21, e sexta-feira, 22. Batizada de Projeto Guamá, a ação é capitaneada pela artista multimídia paraense Roberta Carvalho, nome de destaque na cena nacional e também internacional.
A proposta é fazer uma vivência artística na região ribeirinha, com captações de imagens, projeções em múltiplas telas, como em áreas verdes e rios, projeções de cinema nas comunidades, e troca de conhecimentos. Tudo isso em interlocução com jovens e adultos da região das ilhas. Para tanto, além das intervenções artísticas e rodas de conversas, o projeto ofertará oficinas gratuitas voltadas aos moradores de comunidades ribeirinhas, de modo a dar a eles instrumentos para utilização de novas tecnologias.
O projeto é uma parceria com a Universidade Federal do Pará – por meio da Fadesp, Proex, Faculdade de Artes Visuais e curso de Produção Multimídia – e Governo Federal, realizado nas margens do rio Guamá, passando pela Ilha do Combu e Ilha Grande.
OFICINAS
Serão duas oficinas. A primeira será ministrada por Felipe Marujos, ribeirinho e comunicador, publicitário e porta-voz da floresta, que vai falar sobre o uso do celular e das redes sociais como ferramentas de empoderamento social e cultural. A segunda oficina será ministrada por Roberta Carvalho e também pelos artistas multimídias Lucas Negrão e Lorena Rodrigues, falando sobre a projeção de imagem em simbiose com o espaço e sobre fotografia e vídeo com uso de celular.
Segundo Roberta Carvalho, tudo foi pensado como uma troca, em um mesmo nível. “A construção do projeto foi por meio de um processo colaborativo e horizontal, onde as vozes e perspectivas das comunidades foram consideradas desde o início. A importância dessa abordagem horizontal reside em promover autonomia e fortalecimento das comunidades, garantindo que elas não sejam apenas destinatárias, mas participantes ativas dessa construção. Isso também fomenta um ambiente de confiança mútua, essencial para que possamos nos desenvolver com saúde e sustentabilidade a longo prazo. As parcerias locais não apenas contribuem para a eficácia do projeto, mas também fortalecem os laços sociais e culturais em nossa região”, avalia.
Para a artista, investir no diálogo entre tecnologia e povos ribeirinhos da Amazônia é extremamente relevante. “Ao utilizar a tecnologia de maneira sensível e colaborativa, é possível criar combinações entre conhecimentos tradicionais e contemporâneos, tecnologia e ancestralidade. Além disso, essa integração pode abrir portas para o compartilhamento de histórias e saberes, contribuindo para uma compreensão mais ampla e respeitosa entre as nossas diferentes culturas amazônicas.”
E ela tem mostrado ao mundo que a Amazônia está muito além do clichê repetido por décadas. Roberta recentemente codirigiu o espetáculo apresentado pelo governo brasileiro na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em Dubai, nos Emirados Árabes, com artistas da Amazônia. Também assinou a direção criativa e curadoria do projeto Pororoca, que ocupou a Times Square, em Nova York, com programação cultural em defesa da Amazônia durante a Semana do Clima de 2023. Em 2022, ela também já tinha tido destaque internacional ao assinar a direção artística do projeto “Nave”, no Rock In Rio, apresentando uma Amazônia ao mesmo tempo ancestral e tecnológica. Agora, com o Projeto Guamá, o que ela pretende é exatamente reforçar o sentido dessa diversidade.
“Ao ocupar as margens dos rios com arte, busco criar uma narrativa imersiva que conte histórias das tantas Amazônias que somos, transbordando de cultura e biodiversidade. A escala das imagens visa envolver o público de maneira mais profunda, conectando-se com a grandiosidade da paisagem amazônica” conta a artista, que figura hoje entre os nomes relevantes unindo arte e tecnologia no Brasil, com trabalhos no trânsito entre a imagem, a intervenção urbana, a videoprojeção e a videoarte.
Suas obras trazem a inserção da imagem digital fotográfica ou em vídeo para o espaço público da cidade e outras paisagens não urbanas. Seja em copas de árvores, seja em edificações históricas. Muitas das imagens construídas refletem uma relação simbólica e simbiótica com o entorno onde a ação artística acontece, como em “Symbiosis”, obra criada em 2007, onde faces de ribeirinhos amazônicos são projetadas em áreas verdes nestas próprias comunidades.
“Guamá” converge toda essa trajetória. “A gente pretende imergir no movimento dos rios, que são fluxos de resistência ao longo da história. A paisagem dos rios é composta de sua própria natureza e também da experiência humana de ali existir. O projeto pretende trazer à tona histórias, sonoridades e visualidades”, diz Roberta.
Busco criar uma narrativa imersiva que conte histórias das tantas Amazônias que somos, transbordando de cultura e biodiversidade. – Roberta Carvalho, artista multimídia