Cintia Magno
Mais do que solucionar um problema pontual, gestos aparentemente simples podem ser capazes de mobilizar uma comunidade em benefício do bem comum. Algumas vezes, essa mobilização pode partir da vontade de transformar um local que havia se tornado um ponto de depósito irregular de lixo, em um ambiente agradável e propício para o desenvolvimento da arborização.
Foi desta forma que um grupo de moradores da travessa Barão do Triunfo, no bairro do Marco, decidiu criar um coletivo batizado como ‘Amigos da Barão Verde’, com objetivo de realizar ações de melhorias, cuidados e preservação ambiental na via. Não demorou muito para que a semente plantada pelo grupo rendesse frutos também em outros trechos da travessa.
“Essa área era razoavelmente cuidada, mas a gente percebeu que com um tempo estava quase um matagal. A gente passava por aqui e ficava agoniada porque via essa situação bem em frente do nosso condomínio. Então, um belo dia eu encontrei a Irhis e falei ‘bora fazer alguma coisa?’ e ela disse ‘bora’ e a gente começou, veio a Cristina, veio a Enize, outras pessoas se reuniram. Não foi difícil mobilizar”, lembra Norma Bentes, 55 anos, servidora pública federal e integrante do coletivo.
Para que os reparos necessários fossem realizados, as moradoras decidiram utilizar uma estratégia já conhecida para reunir recursos. Explicando a motivação que as levaram a se organizar, passaram de porta em porta oferecendo uma rifa. Mais do que isso, buscavam levar a semente da educação ambiental em cada fala dita a quem estivesse disposto a ouvir.
“Nós fizemos uma campanha porque a gente entendia que o primeiro passo era sensibilizar. Saímos com uma cartinha nos apresentando como coletivo ‘Amigos da Barão Verde’ e falando que o nosso objetivo é contribuir para melhorar a nossa quadra, garantir a limpeza, a arborização porque a gente mora aqui, então, acaba sendo uma extensão da nossa casa”, lembra Norma.
“Nós fizemos um trabalho de formiguinha. Fizemos a rifa de um bolo e fomos de apartamento em apartamento vendendo e foi assim. A rifa foi 100% vendida”, complementa a educadora que também faz parte do coletivo, Irhis Alves, 56 anos.
Com os recursos garantidos, o coletivo iniciou os trabalhos e fez vários testes para identificar o modelo que melhor se adequasse ao canteiro central da via. Logo no início, o grupo percebeu que as mudas plantadas na extensão do canteiro acabavam pisadas por pedestres que passavam. Outro desafio foi o furto de algumas mudas.
“Para garantir que ficasse aqui, o rapaz que faz a jardinagem nos falou que tínhamos que colocar mudas sem valor comercial e resistentes ao sol e à chuva. Depois colocamos as mudas no meio, esse separador e em volta a grama. Com isso, pararam de pisar nas mudas”, conta Norma.
Com o trabalho e a participação cada vez maior de moradores do condomínio, o trecho que costumava acumular lixo, passou a abrigar as plantas e assim permaneceu. Com isso, demais moradores de outros pontos da via se viram ‘contaminados’ pela iniciativa. “O pessoal do prédio ao lado viu como ficou, tiraram fotos das plaquinhas, pediram o contato do jardineiro e fizeram no mesmo padrão”, conta Norma, Irhis e outras integrantes do coletivo, a servidora pública Glaura Brito, a professora aposentada Maria de Belém Barbosa, a médica Cristina Celeira, e a dona de casa Marli Costa.
“A gente já está vendo uma mudança de hábitos porque o canteiro era visto como um depósito de lixo e a gente via que, com o privilégio de ter uma rua arborizada, isso não era justo. Então, a ideia era mostrar que a gente pode fazer alguma coisa quando a gente quer, a gente pode ser corresponsável porque se tem uma coleta regular, mas a rua vive cheia de lixo é porque tem algum problema”.
Para que outros trechos da via também possam receber os mesmos cuidados, o coletivo tenta mobilizar outros moradores e, naturalmente, envolver o próprio poder público. “A gente foi negociando, já falamos com o pessoal do banco, da clínica, com o outro condomínio e vingou lá no final com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) [cuja sede da Regional Norte II também está localizada na travessa] e os moradores de lá que também aderiram”, conta Norma Bentes.
“A gente também fez uma reunião com a Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém), que se propôs a fazer uma cooperação técnica onde ela dá alguns materiais e mão de obras. Então, a ideia é fazer uma cooperação para que o poder público também possa olhar. Essa é uma iniciativa de moradores, mas que precisa também desse suporte porque estamos trabalhando em prol da cidade, então, contagia as pessoas. A gente considera isso uma pequena ação, mas o que a gente quer é sensibilizar e mostrar que é possível”.
MOBILIZAÇÃO
l Ao observar práticas irregulares de descartes de lixo e entulho no canteiro central da travessa Barão do Triunfo, no perímetro entre as avenidas Almirante Barroso e Rômulo Maiorana, um grupo de moradores da quadra decidiu criar, no início de 2022, o coletivo nomeado “Amigos da Barão Verde”.
l Como primeira ação para mudar a realidade encontrada no local, o coletivo enviou ofícios para as secretarias municipais de saneamento (SESAN) e de meio ambiente (SEMMA), para retirada de entulho, roçagem e capinação, trabalho que foi realizado e já contribuiu com a melhora as condições de limpeza e higiene do local.
l Como forma de sensibilização da própria comunidade, o coletivo também decidiu distribuir uma carta aos Moradores da Barão do Triunfo e às empresas/instituições que atuam na quadra, apresentando o grupo e buscando apoio para promover as melhorias e cuidados.
l No documento foi destacado que os moradores poderiam colaborar cuidando e preservando as plantas e árvores da quadra, não colocando lixo e nem entulho no canteiro central e, se atentando para o horário de coleta pública de lixo.
l A partir de coleta entre os membros do grupo, doações de outros moradores e promoções de rifa, o grupo juntou recurso financeiros e conseguiu realizar a limpeza, paisagismo e ajardinamento do trecho em frente ao condomínio em que moram os integrantes que deram início ao coletivo (hoje, moradores de outros condomínios e de casas situadas na quadra já se juntaram ao grupo), plantando as mudas, protegendo as árvores, embelezando o canteiro e colocando plaquinhas educativas no canteiro central da Barão do Triunfo. Para a manutenção, os membros do grupo se revezam para molhar as plantas e manter o canteiro sempre cuidado.