
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou nesta segunda-feira, 3, o Quilombo Itacoã-Miri, no município de Acará, a cerca de 120 quilômetros de Belém, como parte da agenda preparatória para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Acompanhado dos ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Anielle Franco (Igualdade Racial), Lula dialogou com moradores e lideranças locais sobre os desafios enfrentados pelas comunidades tradicionais amazônicas.
A visita integra a estratégia do governo federal de fortalecer políticas sociais, econômicas e ambientais voltadas às populações quilombolas e ribeirinhas. O Itacoã-Miri, reconhecido pela Fundação Cultural Palmares desde 2014 e titulado em 2003, é referência em organização comunitária e sustentabilidade. São 96 famílias e cerca de 544 moradores que vivem da agricultura, do extrativismo e de iniciativas de turismo de base comunitária.
Entre as vozes ouvidas pelo presidente estava Maria de Nazaré Leal, 44 anos, vice-presidente da Associação de Agricultores Moradores Quilombolas Santa Maria de Itacoã-Miri. Universitária do curso de Ciências Naturais da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maria destacou os avanços trazidos por políticas públicas recentes, mas alertou para preocupações da comunidade. “A gente é grato por tudo o que chegou até aqui, mas queremos que o presidente olhe com atenção para o possível aterro sanitário em Bujaru. Temos medo de que contamine tudo. Falta também infraestrutura e segurança; aqui não tem delegacia, só na cidade”, afirmou.
Durante o encontro, o ministro Paulo Teixeira anunciou a criação de linhas de crédito específicas para empreendedores locais, com o apoio do Banco da Amazônia e da Caixa Econômica Federal, dentro do programa Desenrola Rural, voltado à renegociação de dívidas e incentivo à produção do açaí e outras cadeias da sociobiodiversidade.
A coordenadora de mulheres da Malungu, Élda Monteiro, também destacou o papel das mulheres quilombolas na preservação ambiental e geração de renda com projetos como o Flores do Quilombo e o Refloresta, implementado em parceria com a UFPA.
Em seu discurso, Lula reafirmou o protagonismo do Pará na COP30 e a importância da Amazônia no debate climático global.
“O mundo fala da Amazônia como se fosse do mundo. Mas a Amazônia é um território brasileiro. E o que nós queremos é mostrar que é possível manter a floresta em pé garantindo dignidade a quem vive nela. Por isso escolhemos o Pará para receber a COP30, para que o mundo venha conhecer não só a floresta, mas o povo que vive aqui, a culinária e a cultura mais poderosa que esse país tem”, afirmou.
O presidente também rebateu críticas sobre a infraestrutura de Belém. “Diziam que não tinha hotel, que tinha mosquito, que faltava saneamento. Fizemos uma parceria com o governo do Estado e uma revolução na cidade. O que foi feito vai ficar para o povo”, disse. Lula enfatizou que a visita teve como objetivo “ouvir e não apenas receber elogios”. “Eu vim aqui para que vocês cobrem. Ser pobre, seja na periferia, no quilombo ou na rua, é ser tratado como invisível. O nosso governo veio para mudar isso.
O presidente também destacou a parceria com o governador Helder Barbalho (MDB) na preparação da COP30 e na execução de obras estruturantes em Belém e no interior. Segundo ele, o evento se tornou um marco de cooperação entre os governos federal e estadual.
“O companheiro Helder tem sido um parceiro extraordinário. Tudo o que foi feito em Belém para preparar a cidade para a COP30 é fruto de muito trabalho conjunto. Fizemos uma verdadeira revolução urbana — com obras, mobilidade, habitação e saneamento — que não são só para os visitantes, mas um legado permanente para o povo paraense”, afirmou Lula.
A agenda do presidente no Pará segue durante a semana, com compromissos voltados às comunidades tradicionais e à preparação final para a COP30, que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém.


