“Corre, que lá vem ela!” Quem nunca ouviu esse alerta, frente a um céu cheinho de nuvens carregadas na capital paraense? E foi justamente esse aspecto da relação cultural do belenense com a chuva que inspirou a criação do jogo digital “Lá Vem Ela”, desenvolvido pelos alunos do curso de Design, da Universidade do Estado do Pará, Davi Brito da Silva Lobo Gemaque e Rayara Lins da Silva Ribeiro, sob orientação da professora Brena Renata Maciel Nazaré.
O game foi o produto desenvolvido pela dupla, a partir do trabalho de conclusão de curso que os estudantes realizaram após perceberem que ainda são poucos os projetos de jogos que destacam os elementos culturais de regiões afastadas dos grandes polos de produção de jogos eletrônicos.
Dessa forma, Davi e Rayara projetaram um jogo eletrônico em formato pixel art, com temática que utiliza aspectos culturais belenenses. Além da temática, o cenário também é ambientado em uma das avenidas mais conhecidas da cidade, a Avenida Nossa Senhora de Nazaré, onde o avatar precisa correr para não tomar um banho de chuva.
Mas, não é só correr da chuva, porque no caminho a personagem precisa se desviar de quedas de mangas, bueiros abertos e animais no meio da via. E, nesse percurso cheio de obstáculos, o jogador é desafiado a coletar moedas jogadas no chão. Em Belém, esse dinheiro miúdo costuma ser chamado de “boró”, por isso esse foi o nome utilizado para identificar as recompensas que o jogador pode desbloquear, no decorrer das partidas para acumular pontos, por quantidade de percurso percorrido.
Para desenvolver o game, a dupla realizou uma pesquisa com 115 pessoas que moram em Belém, que se deslocam a pé, de ônibus e ou de carro.
“Noventa pessoas afirmaram sofrer com as incidências de chuva em seu cotidiano em Belém, principalmente, em situações de ida a aula, ao trabalho e durante passeios. As vias em que os habitantes mais ‘pegaram chuva’ foram as Avenidas Nazaré, Almirante Barroso, Augusto Montenegro e Doca (Visconde de Souza Franco)”, detalham os designers.
Depois de realizarem a pesquisa, Davi e Rayara definiram como público homens e mulheres, com idade entre 20 e 24 anos, que jogam em média uma ou duas horas por dia, utilizando o celular, de preferência, jogando gêneros de ação, aventura e estratégia. Os autores afirmam que “em sua maioria são estudantes universitários, cursando uma graduação em áreas relacionadas à comunicação ou tecnologia”.
Uma das jogadoras que baixou a versão beta do jogo disponibilizada no perfil de Davi Gemaque em uma rede social, a jornalista Marília Jardim também contribuiu com a avaliação solicitada por ele como retorno das pessoas, para validar o produto.
“O jogo é muito divertido, cumpre o papel de entreter e para mim, remete a uma nostalgia dos jogos de infância da geração millennial. Também gostei muito da trilha sonora, que mistura uma música brega com aqueles sons de joguinhos”, ressalta a jornalista, que descobriu as possibilidades do game após repetidas sessões jogadas.
Sobre a reação do público, Davi afirma que “houve um retorno em massa, principalmente no twitter, onde a gente obteve cerca de 33 mil visualizações do projeto. E as pessoas comentando e compartilhando se identificaram muito com a trilha sonora, inspirada nos bregas marcantes aqui da capital, com o cotidiano apresentado no jogo, onde as pessoas sofrem esse atrito com a chuva, as pessoas se identificaram. E também com os próprios personagens, em que tem um que veste como torcedor do Paysandu”, conta o graduado, que também afirma o quanto as deram sugestões, como propostas de novos cenários, entre eles, o Ver-o-Peso.
Rayara Lins Ribeiro explica que “após o feedback do público e de conversas com o autor do game Pega o Beco, nós vamos incluir o jogo em uma loja de aplicativo. Com isso a gente deve participar mais desse universo de desenvolvedores de jogos”.
Sobre o trabalho, a designer em formação relata que “o maior trabalho foi o de animar objetos parados, fazer uma representação de tal forma que quando juntasse várias telas, os personagens e objetos tivessem aquela ideia de movimento”.