Grande Belém

A cidade alagada! (Artigo de Nagib Charone Filho)

Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.
Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.

A cidade alagada!

Nagib Charone Filho (*)

Belém é uma cidade plana cortada por 15 bacias e aproximadamente 60 canais todos eles jogando suas águas, ao fim e ao cabo, na Baía do Guajará. Belém é uma cidade plana porque é uma planície sedimentar cujas terras vieram, há milhões de anos, trazidas de regiões onde hoje se encontram Ananindeua e mais além seguindo o curso da BR 316.

Por essa razão, o escoamento das águas de chuva segue com velocidades que permitiam as crianças brincarem de barquinhos de papel, porque não passa de 6 quilômetros por hora, ao contrário das cidades nas regiões do sul do país, onde os morros e cordilheiras, fazem as águas de chuva tornarem-se torrente violentas, como vimos neste instante no litoral de São Paulo e como acontece sempre em regiões com essa geologia.

Mesmo tendo tantos canais e a baía perto, a cidade alaga em várias ruas causando transtornos ao trânsito e ao bem-estar de moradores que têm suas casas alagadas. A baixa velocidade de escoamento das águas somada ao estreitamento dos canais e o entupimento dos tubos de drenagem que passam no centro das ruas é a causa dos alagamentos.

Esses são fatos conhecidos faz muito tempo e a prefeitura sabe que antes do período de chuvas, deve tomar duas medidas importantíssimas: limpar os canais e desentupir os tubos de drenagem. Na década de 2005 a prefeitura usou equipamentos apropriados para limpeza dos tubos de drenagem e viam-se fios de aço sendo puxados por guinchos e, eu pessoalmente, vi esse trabalho sendo executado na José Malcher. Porém não duraram muito, o mesmo acontecendo com a limpeza feita nos canais.

Aliás, por essa época, o BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento, entregou à Prefeitura, um conjunto de equipamentos constituídos de dragas, caçambas, retro escavadeiras e outros, como compromisso que tinha o Banco, para suprir à Prefeitura no intuito de fazer a manutenção e limpeza do Canal do Una, cujo empréstimo conseguido pelo então Governador Jader Barbalho, havia terminado.

Esses equipamentos ficaram expostos por pouco tempo para a população tomar conhecimento e antes de um mês sumiram de tal forma que até hoje o Ministério Público não sabe por onde andam ou como foram destruídos.

Nas administrações seguintes a Prefeitura conseguiu novo empréstimo junto ao BID para fazer o beneficiamento dos canais que constituem a bacia da Bernardo Sayão, mais conhecida como Estada Nova, e que em nada avançou até o fim da administração do Sr. Zenaldo Coutinho.

O contrato, por esse motivo, estava prestes a ser rescindido quando o atual Prefeito conseguiu resgatá-lo e, após muito esforço, os trabalhos seguem com velocidade sofrível. Essa bacia, no estado em que se encontra, alaga vários bairros da cidade e quase todo o grande bairro do Jurunas e é um monstruoso empecilho ao escoamento das águas.

A bacia da Estrada Nova, em épocas de chuva e marés equinociais, transforma uma grande parte do Bairro Jurunas em um lago povoado por palafitas onde vivem os desassistidos apesar de estarem sob as vistas do Poder Constituído. Os moradores dessas palafitas e casas alagadas, respiram os miasmas que sobem das águas pútridas, resultado de dejetos trazidos da cidade mais alta. Ao que tudo indica, essa situação permanecerá ainda por décadas e necessitará de muito empenho das autoridades. É o que digo.

 

(*) Nagib Charone Filho

Eng.º Civil, Msc

e-mail: nagibcharone @gmail.com