
Pará - Imagine uma cidade sem carros, motos e ônibus. Onde o som do motor é substituído pelo das correntes e pedais. Onde todos, de crianças a idosos, compartilham as ruas sobre duas rodas. Essa cidade existe e fica no Pará.
Trata-se de Afuá, um município ribeirinho localizado na Ilha de Marajó, conhecido nacionalmente como a Cidade das Bicicletas. Por lá, cerca de 40 mil habitantes se deslocam exclusivamente de bicicleta. As ruas suspensas sobre palafitas, construídas de madeira, cortam a paisagem alagadiça e formam um cenário que mistura tradição, sustentabilidade e harmonia no trânsito.
Uma cidade sem motores
Afuá impressiona pela simplicidade e pela eficiência de sua mobilidade. Por razões geográficas o solo alagado e o traçado urbano sobre palafitas veículos motorizados não circulam. O resultado é um trânsito silencioso, limpo e organizado de forma espontânea.
A funcionária pública Yasmyn Pantoja, moradora há duas décadas, descreve a rotina como uma convivência pacífica entre ciclistas: “O trânsito aqui é como uma confusão organizada. Não temos sinalização, mas há respeito. Todo mundo se entende. Dificilmente alguém cai ou briga. É algo natural pra gente”.
A cidade também é conhecida como “Veneza Marajoara”, por seus canais e arquitetura típica. As casas e comércios em madeira formam uma paisagem única, que atrai turistas, pesquisadores e fotógrafos. Segundo a turismóloga Andra Ataíde, da Secretaria de Turismo local, o fluxo de visitantes é constante: “Muitos vêm pedalar em Afuá. Ciclistas, estudantes de arquitetura e engenharia adoram o ambiente. É uma cidade que inspira por ser diferente, segura, leve e acolhedora”.
A jornalista e cicloativista Renata Falzoni, que já visitou Afuá, descreve a experiência de pedalar na cidade como algo transformador: “Afuá mostra que a bicicleta dá asas iguais para todo mundo. É uma cidade em que o ambiente urbano promove respeito e igualdade. É uma aula de mobilidade democrática”.
O modelo de Afuá desperta reflexões sobre o futuro da mobilidade urbana em Belém e na Região Metropolitana (RMB). Com a COP30, que coloca a capital paraense no centro das discussões sobre sustentabilidade, cresce o debate sobre como tornar o transporte nas grandes cidades mais limpo e acessível.
Belém e o desafio da mobilidade sustentável
Em Belém, a bicicleta ainda enfrenta obstáculos. Apesar da ampliação das ciclovias em avenidas como Augusto Montenegro e Almirante Barroso, o uso da bike como meio de transporte diário é limitado por problemas de infraestrutura, calor intenso e insegurança viária.
Enquanto Afuá vive uma mobilidade natural e coletiva, Belém tenta equilibrar tradição e modernidade. Especialistas defendem que investir em políticas públicas voltadas à ciclomobilidade, como integração com o transporte público, estacionamentos e campanhas de conscientização é essencial para reduzir o impacto ambiental e melhorar a qualidade de vida nas cidades da Amazônia.
Como chegar à “Cidade das Bicicletas”
Para conhecer Afuá, é preciso ir até Macapá (AP) e seguir de lancha pelo Rio Amazonas até o município marajoara. O trajeto dura cerca de duas horas, mas a experiência vale a viagem: uma cidade suspensa sobre madeira, movida a pedaladas e respeito.
Com informações: Radioagência
Editado por Débora Costa