Afuá, na Ilha de Marajó, é a “Cidade das Bicicletas”, onde não circulam carros nem motos. O exemplo inspira Belém a repensar a mobilidade urbana e sustentável.
Afuá, na Ilha de Marajó, é a “Cidade das Bicicletas”, onde não circulam carros nem motos. O exemplo inspira Belém a repensar a mobilidade urbana e sustentável. Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Pará - Imagine uma cidade sem carros, motos e ônibus. Onde o som do motor é substituído pelo das correntes e pedais. Onde todos, de crianças a idosos, compartilham as ruas sobre duas rodas. Essa cidade existe e fica no Pará.

Trata-se de Afuá, um município ribeirinho localizado na Ilha de Marajó, conhecido nacionalmente como a Cidade das Bicicletas. Por lá, cerca de 40 mil habitantes se deslocam exclusivamente de bicicleta. As ruas suspensas sobre palafitas, construídas de madeira, cortam a paisagem alagadiça e formam um cenário que mistura tradição, sustentabilidade e harmonia no trânsito.

Uma cidade sem motores

Afuá impressiona pela simplicidade e pela eficiência de sua mobilidade. Por razões geográficas o solo alagado e o traçado urbano sobre palafitas veículos motorizados não circulam. O resultado é um trânsito silencioso, limpo e organizado de forma espontânea.

A funcionária pública Yasmyn Pantoja, moradora há duas décadas, descreve a rotina como uma convivência pacífica entre ciclistas: “O trânsito aqui é como uma confusão organizada. Não temos sinalização, mas há respeito. Todo mundo se entende. Dificilmente alguém cai ou briga. É algo natural pra gente”.

A cidade também é conhecida como “Veneza Marajoara”, por seus canais e arquitetura típica. As casas e comércios em madeira formam uma paisagem única, que atrai turistas, pesquisadores e fotógrafos. Segundo a turismóloga Andra Ataíde, da Secretaria de Turismo local, o fluxo de visitantes é constante: “Muitos vêm pedalar em Afuá. Ciclistas, estudantes de arquitetura e engenharia adoram o ambiente. É uma cidade que inspira por ser diferente, segura, leve e acolhedora”.

A jornalista e cicloativista Renata Falzoni, que já visitou Afuá, descreve a experiência de pedalar na cidade como algo transformador: “Afuá mostra que a bicicleta dá asas iguais para todo mundo. É uma cidade em que o ambiente urbano promove respeito e igualdade. É uma aula de mobilidade democrática”.

O modelo de Afuá desperta reflexões sobre o futuro da mobilidade urbana em Belém e na Região Metropolitana (RMB). Com a COP30, que coloca a capital paraense no centro das discussões sobre sustentabilidade, cresce o debate sobre como tornar o transporte nas grandes cidades mais limpo e acessível.

Belém e o desafio da mobilidade sustentável

Em Belém, a bicicleta ainda enfrenta obstáculos. Apesar da ampliação das ciclovias em avenidas como Augusto Montenegro e Almirante Barroso, o uso da bike como meio de transporte diário é limitado por problemas de infraestrutura, calor intenso e insegurança viária.

Enquanto Afuá vive uma mobilidade natural e coletiva, Belém tenta equilibrar tradição e modernidade. Especialistas defendem que investir em políticas públicas voltadas à ciclomobilidade, como integração com o transporte público, estacionamentos e campanhas de conscientização é essencial para reduzir o impacto ambiental e melhorar a qualidade de vida nas cidades da Amazônia.

Como chegar à “Cidade das Bicicletas”

Para conhecer Afuá, é preciso ir até Macapá (AP) e seguir de lancha pelo Rio Amazonas até o município marajoara. O trajeto dura cerca de duas horas, mas a experiência vale a viagem: uma cidade suspensa sobre madeira, movida a pedaladas e respeito.

Com informações: Radioagência

Editado por Débora Costa

Trayce Melo

Repórter

Jornalista com experiência em redação, planejamento de estratégias e produção de conteúdo digital. Escreveu uma série de materiais independentes para o Portal Leia Já. Também atuou como social media na Secretaria de Estado de Turismo do Pará e como assessora de comunicação na Prefeitura de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó. Além disso, atuou como analista de marketing na Enter Agência Digital. Recebeu o prêmio Internacional Premium Cop 30 Amazônia, concedido pelo ICDAM. Atualmente, é repórter do Jornal Diário do Pará.

Jornalista com experiência em redação, planejamento de estratégias e produção de conteúdo digital. Escreveu uma série de materiais independentes para o Portal Leia Já. Também atuou como social media na Secretaria de Estado de Turismo do Pará e como assessora de comunicação na Prefeitura de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó. Além disso, atuou como analista de marketing na Enter Agência Digital. Recebeu o prêmio Internacional Premium Cop 30 Amazônia, concedido pelo ICDAM. Atualmente, é repórter do Jornal Diário do Pará.