José Marques/Folhapress
A reabertura de um inquérito em maio sobre suspeitas de fraudes no início da Operação Lava Jato levou um delegado da Polícia Federal que atuou na operação a pedir que o caso fosse novamente arquivado e a classificar a retomada da investigação como “revanchismo”.
O inquérito trata da suspeita de conduta ilegal de integrantes da PF em 2014 por terem supostamente utilizado Meire Poza, que havia sido contadora do doleiro Alberto Youssef, como “agente infiltrada” de maneira informal, colhendo informações por meio de documentos e de gravações.
A apuração que levanta essa hipótese aponta ainda a possibilidade de ter havido uma busca e apreensão falsa no escritório de Meire para “esquentar” as provas entregues por ela para que pudessem ser usadas em ação penal.
Também afirma que Meire seria uma colaboradora informal, inclusive com a concessão de benesses legais, mas sem a formalização dessa situação. As investigações a respeito do episódio foram iniciadas em São Paulo e enviadas pela Justiça a Curitiba, a pedido do Ministério Público Federal. Em 2017, o inquérito foi arquivado. Em maio, no entanto, o juiz Eduardo Appio, que atuava na vara da Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, reabriu o inquérito.
Appio, crítico da operação e suspeito de ter usado informações da Justiça para constranger outro magistrado, foi afastado do cargo no mesmo mês pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), sediado em Porto Alegre.
O TRF-4 havia também declarado o juiz suspeito nos processos da Lava Jato, mas o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli anulou a decisão da corte. Atualmente, Appio é alvo de uma investigação disciplinar no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Em julho, a defesa do delegado da PF Márcio Anselmo, que atuou na operação envolvendo informações de Meire, pediu ao TRF-4 que a investigação fosse trancada. Na peça, o advogado de Anselmo, Nelson Wilians, diz que a corporação já concluiu pela “inexistência de delitos e transgressões disciplinares” por parte do delegado.
“Em 2023, os fatos são requentados e o inquérito policial é desarquivado, sem qualquer tipo de prova relevante”, diz Wilians.
“Trata-se de uma situação totalmente atípica, porquanto, inexistem novas provas ou apuração de novos fatos para ensejar o desarquivamento do inquérito. Ademais, a conduta do juízo causa estranheza, pois denota-se um caráter revanchista contra os investigadores que participaram da Operação Lava Jato”.
Após o pedido e o afastamento de Appio, o caso se tornou novamente sigiloso. Desde julho, aguarda uma decisão do relator no TRF-4.
Procurado, Anselmo não se manifestou sobre o caso. A reportagem não conseguiu localizar Meire Poza ou sua defesa. A Justiça Federal do Paraná não informou qual o andamento do inquérito.