Mariana Machado Rocha - Chefe do UNICEF para os estados do Pará, Amapá, Tocantins e Mato Grosso. Foto: Divulgação
Mariana Machado Rocha - Chefe do UNICEF para os estados do Pará, Amapá, Tocantins e Mato Grosso. Foto: Divulgação

As mudanças climáticas estão alterando o regime de chuvas da Amazônia, com períodos de precipitação mais concentrados e fortes em uma parte do ano e secas prolongadas em outra.

Esses fenômenos já impactam o cotidiano de milhares de famílias. De acordo com o UNICEF, somente na Amazônia brasileira mais de 1.700 escolas e cerca de 760 centros de saúde foram fechados ou ficaram inacessíveis em 2024 por causa dos baixos níveis dos rios.

Essas histórias, tão comuns hoje na Amazônia, mostram que a crise climática não é apenas uma ameaça ambiental. É uma crise de direitos humanos — e, principalmente, de direitos das crianças e adolescentes.

Elas estão entre as mais vulneráveis aos impactos do clima: seus corpos e mentes ainda estão em desenvolvimento, o que as torna mais suscetíveis ao calor extremo, à escassez de água potável, à insegurança alimentar e às doenças que se agravam com a degradação ambiental. Além disso, a garantia de seus direitos depende do bom funcionamento de serviços públicos essenciais — como saúde, educação, saneamento e proteção social — normalmente prejudicados ou interrompidos em cenários de desastres climáticos.

Os efeitos dessa crise são ainda mais severos entre as populações pobres, que têm menos recursos para se proteger de desastres ou reconstruir suas vidas. As crianças representam um terço da população mundial e correspondem à metade de todas as pessoas que vivem em pobreza extrema. Ainda assim, menos de 3% do financiamento climático global é direcionado para atender às suas necessidades.

A COP, ou Conferência do Clima, é o maior encontro global sobre o tema. Em 2025, temos a oportunidade de reverter a lógica exploratória imposta, que vem acentuando desigualdades na região por séculos. 

É hora de mostrar a força e o conhecimento do povo amazônida e de fazer com que as vozes das crianças e adolescentes daqui — e de todo o Brasil — sejam ouvidas e consideradas nas decisões que definirão o futuro do planeta. Elas têm experiência vivida, sabedoria, energia e senso de justiça — e querem participar da construção coletiva de soluções.

Ações e Iniciativas do UNICEF

No Brasil, o UNICEF trabalha em parceria com governos, sociedade civil e comunidades para garantir que cada menino e menina tenha o direito de crescer em um ambiente limpo, saudável e sustentável.  Defendemos que planos de ação climática incluam investimentos e oportunidades que beneficiem especificamente as necessidades das crianças e dos adolescentes.

Precisamos garantir mais financiamento climático internacional e prioridade orçamentária interna para investir em proteção dos direitos das crianças e adolescentes. Fortalecer os serviços públicos essenciais: escolas seguras e resilientes ao clima, unidades de saúde preparadas para emergências, sistemas de água e saneamento capazes de resistir a eventos extremos, e redes de proteção social que alcancem quem mais precisa. E fortalecer iniciativas para gestão de risco de desastres – incluindo a elaboração de planos de contingência; participação cidadã intergeracional nos sistemas de Proteção e Defesa Civil; desenvolvimento de políticas de adaptação centradas nos mais vulneráveis; arquitetura urbana resiliente; soluções baseadas na natureza, dentre outros.

O setor privado também tem papel decisivo: precisa reduzir suas emissões e investir em projetos que protejam comunidades e gerem oportunidades para jovens em novas economias verdes.

De Norte a Sul, a juventude está ocupando seus espaços de fala e de ação, influenciando políticas locais e globais. As contribuições de crianças, adolescentes e jovens da Amazônia já ecoam dentro de suas comunidades e também no mutirão global pela ação climática, convocado pela presidência da COP30, mostrando que o futuro sustentável começa com o engajamento deles, aqui e agora.

O maior legado que a COP30 pode deixar é o compromisso do Brasil e do mundo com uma ação climática justa e inclusiva. Este compromisso deve ser visível nos debates e, acima de tudo, nas decisões que serão adotadas em breve.
Garantir o direito de cada menino e menina de crescer saudável e protegido é a base de qualquer projeto de futuro. E o futuro do planeta depende do que fazemos agora, juntos — governos, empresas, organizações e cada cidadão.

Sobre a Autora

Mariana Machado Rocha,
Chefe do UNICEF para os estados do Pará, Amapá, Tocantins e Mato Grosso

A autora

Mariana Machado Rocha trabalha como Chefe de Escritório do UNICEF Brasil para os estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Amapá.

Mariana é Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Direitos Humanos e Democratização pelo Centro Europeu Interuniversitário de Direitos Humanos e Democratização, com um Diploma de Pós-Graduação em Gestão de Projetos. 

Trabalhou com organizações da sociedade civil de direitos humanos perante órgãos da União Europeia e das Nações Unidas. Na última década, Mariana trabalhou no Programa Mundial de Alimentos (PMA), onde apoiou a ampliação de políticas públicas para promover a educação e a nutrição infantil, baseando-se na experiência brasileira nessa área. 

Antes de ingressar no UNICEF, Mariana atuou como Chefe de Programas Baseados em Escolas no PMA de Moçambique. Nesse papel, liderou operações de desenvolvimento e emergência em apoio a cerca de 400 mil crianças em idade escolar.

(O artigo não reflete necessariamente a opinião do DIÁRIO)