EM SANTARÉM

Festa do Sairé é reconhecida como manifestação da cultura nacional

O Sairé teve origem em rituais indígenas e significa, em sua tradução simbólica, um chamado à alegria e à preservação da identidade cultural.

Foto: Marco Santos/Ag. Pará
Foto: Marco Santos/Ag. Pará

A partir desta quinta-feira, 18 de setembro, a vila de Alter do Chão, em Santarém, no oeste do paraense, será novamente palco de uma das maiores manifestações culturais da Amazônia: a Festa do Sairé. Com o tema “Cecuiara da Tradição”, a celebração segue até a próxima segunda-feira, 22, unindo fé, ancestralidade, religiosidade e resistência indígena. Em 2024, o festejo foi reconhecido pela Lei 14.997 como manifestação da cultura nacional, consolidando sua importância histórica e simbólica.

Para garantir a realização da festa neste ano, o Governo do Pará destinou R$ 1,5 milhão em investimentos por meio da Fundação Cultural do Pará (FCP) e da Secretaria de Estado de Cultura (Secult). Do total, R$ 1,2 milhão foram viabilizados pelo Programa Semear e R$ 300 mil pela Secult.

“O Semear é uma das principais políticas públicas de incentivo à cultura no Pará, sendo responsável por financiar projetos artísticos e culturais em todo o Estado”, destaca o presidente da FCP, Thiago Miranda.

A secretária de Cultura, Ursula Vidal, ressaltou que o Sairé representa a potência da identidade paraense

“É tradição, valorização da nossa ancestralidade, da criatividade e da identidade que fazem da cultura do Pará referência para o Brasil e o mundo”, enaltece.

Tradição e História do Sairé

Com mais de 300 anos de história, o Sairé tem raízes nos rituais do povo Borari e foi incorporado aos costumes ribeirinhos e às influências católicas trazidas pelos jesuítas.

No século passado, a festa chegou a ser proibida por três décadas, retornando em 1973 após mobilização da comunidade. Hoje, é considerada o maior evento cultural do oeste do Pará, reunindo cortejos, rituais, ladainhas, procissões e espetáculos que atraem turistas de várias partes do Brasil e do mundo.

Festival dos Botos e a Celebração Amazônica

A abertura simbólica ocorre com a busca dos mastros no Rio Tapajós, um ritual que conecta os participantes à natureza e ao sagrado. Um dos pontos altos é o Festival dos Botos, criado em 1998, quando o Boto Cor de Rosa e o Boto Tucuxi disputam o título de campeão em um espetáculo que mistura dança, música, encenação teatral e lendas amazônicas.

Para a rainha do Sairé pelo Boto Cor de Rosa, a jornalista Maria Eulália, a festa é uma ferramenta de resistência cultural

“O Sairé é a autoafirmação do povo Borari. Muito antes do nosso reconhecimento oficial, essa celebração já acontecia no coração da comunidade”, celebra.

O juiz e coordenador Osmar Vieira reforça que o reconhecimento por lei nacional fortalece a luta pela demarcação do território Borari

“É uma forma de dizer que a aldeia precisa ser reconhecida e demarcada. O Sairé também movimenta a economia, gera emprego e garante renda para Alter do Chão”, explica.

Programação e Significado do Sairé 2025

A agenda do Sairé 2025 inclui cortejos, rituais tradicionais, shows regionais e nacionais. No sábado, 20, ocorre o aguardado Festival dos Botos, com a disputa entre Cor de Rosa e Tucuxi. No domingo, 21, estão previstos ritos religiosos e atrações musicais. A festa será encerrada na segunda-feira, 22, com a tradicional derrubada dos mastros, a distribuição do tarubá (bebida tradicional da comunidade) e a apuração que definirá o boto campeão deste ano.

Além de ser expressão cultural e religiosa, o Sairé é também um motor econômico para Santarém, movimentando turismo, hospedagem, gastronomia e comércio. Mais do que isso, representa uma celebração da floresta em pé, da identidade amazônica e da luta dos povos originários pela preservação de seus territórios.