Lula apresenta à imprensa estrangeira plano de segurança e combate ao crime na Base Naval de Val de Cães, em Belém, às vésperas da COP30.
Lula apresenta à imprensa estrangeira plano de segurança e combate ao crime na Base Naval de Val de Cães, em Belém, às vésperas da COP30.

A menos de uma semana da abertura da COP30, que reunirá mais de 140 delegações e 50 chefes de Estado em Belém, o presidente Lula da Silva transformou a capital paraense no epicentro de uma ampla estratégia de segurança nacional.

Durante entrevista coletiva concedida na Base Naval de Val de Cães a correspondentes estrangeiros, nesta terça-feira, 4, Lula detalhou o conjunto de medidas que o governo federal vem implementando para garantir a tranquilidade dos participantes da conferência e, ao mesmo tempo, consolidar uma nova política de enfrentamento ao crime organizado no Brasil.

O presidente destacou o papel central da inteligência policial e da integração entre forças nacionais e estrangeiras para assegurar que a COP30 — evento que colocará a Amazônia no centro das discussões globais sobre o clima — ocorra sob total segurança.

“Precisamos fazer investimento na área de inteligência policial da polícia para que a gente possa combater o crime. É um trabalho que exige integração, tecnologia e decisão política. E estamos fazendo isso”, afirmou.

Entre as medidas apresentadas, Lula ressaltou a inauguração do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI), em Manaus (AM), considerado uma das principais bases de monitoramento e troca de informações estratégicas sobre atividades criminosas na região.

Coordenado pela Polícia Federal, o CCPI reúne agentes de nove estados da Amazônia Legal, de nove países da América do Sul com territórios amazônicos e da Interpol, consolidando um modelo inédito de cooperação policial internacional. “Esse centro foi criado para combater o narcotráfico e o crime organizado nas nossas fronteiras, e já está em pleno funcionamento desde setembro”, destacou o presidente.

O CCPI tem papel direto na segurança da COP30, servindo como ponto de articulação para as operações conjuntas entre forças federais, estaduais e internacionais. Segundo o governo, as informações compartilhadas entre as agências de segurança permitirão antecipar possíveis ameaças e neutralizar ações de organizações criminosas transnacionais, especialmente nas rotas de tráfico que cortam a Amazônia.

Segurança Reforçada para a COP30 em Belém

Outro eixo das ações de segurança é o emprego das Forças Armadas em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), autorizadas por decreto presidencial a pedido do governador do Pará, Helder Barbalho.

O dispositivo estará em vigor de 2 a 23 de novembro e envolve operações em Belém, Altamira e Tucuruí — regiões estratégicas por abrigarem infraestruturas críticas, como portos, hidrelétricas, aeroportos e vias de acesso. A missão das tropas é assegurar a integridade física das instalações, das delegações e da população local durante o período da conferência.

De acordo com o Palácio do Planalto, a GLO tem caráter complementar às forças de segurança pública estaduais e federais, permitindo ação coordenada entre Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias locais. “As Forças Armadas vão trabalhar junto com os órgãos de segurança para garantir que a COP30 seja um evento de paz, com ordem e normalidade”, reforçou Lula.

Medidas Legislativas e o Combate ao Crime Organizado

No campo institucional, o presidente enfatizou que a atual política de segurança se apoia em medidas legislativas estruturantes. Ele citou a PEC da Segurança Pública, encaminhada ao Congresso Nacional, que propõe integrar as esferas federal, estadual e municipal no planejamento e execução das ações de segurança.

A proposta cria um modelo de financiamento estável, padroniza a coleta de dados e busca eliminar lacunas entre as diferentes corporações. “Queremos saber como a União pode participar do combate ao crime organizado sem ferir a autonomia dos estados. Essa PEC vai permitir isso”, explicou Lula.

Outra frente legislativa é o Projeto de Lei Antifacção Criminosa, que amplia penas, tipifica a atuação de facções e cria um banco nacional de informações sobre organizações criminosas. O presidente lembrou que a medida é uma resposta direta ao avanço das facções em centros urbanos e fronteiras. “Mandamos uma lei que aumenta a punição para quem atua nas facções organizadas. O objetivo é desmontar essas estruturas e garantir que a sociedade viva em paz e com tranquilidade”, afirmou.

Durante a entrevista, Lula também exemplificou o impacto das novas ações com operações recentes da Polícia Federal que desmontaram fábricas ilegais de armas em São Paulo e Minas Gerais. “Descobrimos uma fábrica que produzia mais de três mil rifles. Diziam que era contrabando, mas eram feitos aqui. Isso mostra que a inteligência policial está funcionando e que precisamos continuar investindo nisso”, disse o presidente.

Política Internacional e a Busca pela Paz

Além das questões de segurança interna, Lula abordou temas de política internacional, destacando a necessidade de preservar a América do Sul como “zona de paz” e rechaçando a presença de navios de guerra norte-americanos na região. O presidente afirmou que o diálogo e a diplomacia são os únicos caminhos viáveis para a resolução de conflitos, citando a experiência brasileira na mediação da crise venezuelana.

“A América Latina não precisa de guerra. Precisa de paz, desenvolvimento e respeito mútuo. O problema da Venezuela é político, e deve ser resolvido pela política”, afirmou.

Lula defendeu a retomada de espaços de diálogo, como a reunião da Celac-UE (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e União Europeia), marcada para ocorrer em Santa Marta, na Colômbia, como ambiente propício para discutir a segurança regional e a cooperação internacional. Ele lembrou que, durante seu primeiro mandato, o Brasil propôs a criação de um “Grupo de Amigos da Venezuela”, iniciativa que agora volta ao debate.

Com a COP30 prestes a começar, as medidas de segurança já estão em plena execução em Belém, envolvendo patrulhamento aéreo, monitoramento por câmeras de alta precisão, controle de acessos e protocolos de resposta rápida para emergências. O governo afirma que o planejamento mobiliza mais de cinco mil agentes e militares em turnos integrados.

Ao encerrar a entrevista, Lula fez questão de associar o esforço de segurança à imagem internacional do Brasil e à importância simbólica da COP30. “A Amazônia é o coração do planeta, e o Brasil tem o dever de protegê-la — não só ambientalmente, mas também socialmente e na sua segurança nacional. A COP30 será uma demonstração de que o país está preparado para liderar com responsabilidade”, concluiu.