
Foram poucas as rodadas desta Série B em que o goleiro Marcelo Rangel não foi eleito o melhor jogador do Clube do Remo em campo. Ou seja, ao mesmo tempo em que é um indício que o setor defensivo tem deixado a desejar, mostra que o arqueiro azulino está, provavelmente, na melhor fase de sua já longeva carreira. Além disso, em suas entrevistas, quando citado o bom momento, ele costuma lembrar dos companheiros de posição que trabalham com ele no dia a dia. Começando pelo preparador de goleiros Daniel Crizel, passando pelos demais goleiros: Ygor Vinhas e Léo Lang, e os garotos vindos da base Marcos Alexandre e João Victor.
Aos 45 anos, o gaúcho Daniel Ricardi Crizel possui mais de 20 anos de experiência na área, além de ter no currículo atuação como professor universitário. Formado em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul e com mestrado na área na Universidade Federal de Pelotas, Crizel é um pesquisador. Ele tem trabalhos publicados em revistas acadêmicas sobre preparação de goleiros. Portanto, para ele, o excelente momento do comandado é fruto não só do profissionalismo como da excelência para a posição, aliado a uma inteligência para atuar como goleiro. O preparador falou exclusivamente com o Bola. Confira.
Entrevista com Daniel Crizel
P – Quando chegou ao Remo, Marcelo Rangel chegou a sofrer críticas por parte da torcida. Ele vinha de um longo tempo na reserva do Goiás-GO, com poucas chances. O quanto uma falta de ritmo assim interfere até o goleiro voltar à sua melhor forma?
R – O ritmo de jogo para todo e qualquer atleta é fundamental. Falando especificamente do Marcelo, é um atleta que vem também de outro clube grande, acostumado a jogos grandes, onde foi titular com uma sequência longa de jogos. Mas ele teve uma lesão e acabou ficando muito tempo afastado. Um outro atleta se colocou, teve continuidade e ele acabou não conseguindo, nessa outra passagem, ter uma sequência, que aqui no Clube do Remo ele vem tendo. E, a partir disso, como ele é um atleta inteligente, que busca todo dia evoluir em todos os aspectos do treinamento e da vida pessoal também, eu consigo entender que a cada jogo ele acrescenta mais componentes na sua forma de jogar. Isso faz com que ele busque a cada dia se tornar melhor. Então, sem sombra de dúvida, o jogo é um laboratório que te faz crescer muito nas dificuldades.
Todos estão aptos a jogar
P – Marcelo sempre cita os treinadores e companheiros de posição. Numa eventual saída por lesão ou suspensão, como está o elenco para substituir aquele que vem sendo apontado, junto com Pedro Morisco, como o melhor goleiro da Série B?
R – Eles (goleiros do elenco) se retroalimentam. O ambiente é extremamente competitivo entre eles. E ele (Marcelo Rangel) sabe que ao lado dele vão ter atletas que vão treinar muito ao longo da semana. E, se ele não treinar bem, ele vai ficando para trás. Então, ele se obriga a ir cada vez mais alto e se exigir cada vez mais. Esse ambiente que eles promovem entre eles faz com que a todo momento ele possa evoluir e os outros também. Quando tu perguntas se o outro atleta precisar jogar se ele vai dar conta do recado, eu não tenho dúvidas de que semanalmente eles entregam o seu melhor e com a maior dedicação possível. Para mim, isso é um alicerce de sucesso. Eu tenho muita confiança em qualquer atleta que possa vir a entrar no campo de jogo.
A longevidade dos goleiros
P – Goleiros sempre tiveram uma longevidade maior em relação aos jogadores de linha. Mas, essa relação parece ter aumentado, com o grande exemplo sendo Fábio, em alto nível aos 44 anos. Com a melhora na preparação física, métodos de treinamento, cuidados próprios, a tendência é que essa longevidade aumente?
R – Para mim, o determinante na longevidade do atleta é o nível intelectual do atleta. Lógico, além de sua capacidade, o quanto inteligente ele pode ser para adquirir experiência com os jogos que ele faz ao longo da vida. E a cada ano que passa, e a cada jogo que passa, ele poder trabalhar muito mais com a percepção do que vai acontecer, do que tão somente com a sensação. Existe um estudo de uma psicóloga do Rio Grande do Sul que ela fala que quanto mais velhos são os goleiros, mais eles trabalham com a percepção. Eles conseguem antever o que pode vir a acontecer. Então, eu entendo isso como sendo sinônimo de experiência. Então, quanto mais experiente, tendo uma saúde física e os treinos que permitam a ele tirar o melhor dele, a tendência é que mais exemplos e casos como o Fábio podem vir a acontecer.